27 de janeiro de 2017

Dom Casmurro mais uma vez



Quando comecei a me interessar por livros, estabeleci algumas regras básicas. Uma delas era a de não ler mais de uma obra do mesmo autor, posto que há tantos autores e tantos livros que minha vida seria insignificante para conhecê-los. Com esta "lei de sobrevivência" acreditei que aproveitaria os meus anos da melhor maneira possível. Contudo, não tardei a descumpri-la; a cometer o crime de ler mais de um livro de mesmo autor. Os motivos para a infração são óbvios: quando um autor nos agrada, desejamos lê-lo novamente. Aqui mesmo verá que há autores recorrentes, mas ainda não houve livros.

Até agora.

Peguei-me relendo Dom Casmurro. Primeiro algumas partes para matar a saudade, depois para conferir se o tempo me havia dado olhos novos, assim como as leituras capacidade de compreender além. Verdade não mudei muito, mas o pouco basta para um novo texto sobre a obra. Talvez mais de um. Isto nem é importante, já que uso o espaço de hoje para justificar um futuro texto (que talvez nem chegue a ganhar publicação). Nas páginas do próprio Dom Casmurro há muitos capítulos introdutórios, fomentadores de expectativas que muitas vezes não passam disso mesmo: expectativas.

Entretanto, o amigo que veio até aqui não sairá de mãos vazias. 

Algo que esta nova leitura me fez compreender foi que Dom Casmurro não é uma obra sobre a intolerância. No introdutório da edição que reli, começa-se afirmando que trata-se de um romance sobre intolerância. Peço desculpas ao nobre pesquisador que assim o definiu, mas se fosse possível definir Dom Casmurro com uma frase, aos meus olhos, seria como um romance que trata do psicológico do ser humano. Neste campo, creio ser adequado estabelecê-lo. Os motivos são sutis, um contraste à intolerância. Inicialmente, justificam-se pela própria narração, os olhos de Bentinho distorcidos pelo tempo, pelas emoções e pela imaginação. Quem pode atestar, afinal, que ele é honesto com seu leitor? Escreve um diário de fato, mas há segredos que não confiamos nem mesmo às páginas particulares. Mesmo que pense diferente é certo que Santiago tem intenção de ver suas memórias publicadas. O amigo que me acompanha crê que não interferiria na própria história para dar-lhe mais brio aos olhos alheios se tivesse oportunidade? Há muito subjetivismo nas páginas de Dom Casmurro. 

Assim, há de se ponderar que a intolerância, o sentimento de não aceitar; não crer na possibilidade; repudiar, ser avesso, contrário, não pode existir sem que o narrador se convença de que exista. Convencer a si mesmo é a parte mais difícil e eis aí o objetivo em "unir as duas pontas da vida". Parte da riqueza do texto está contida aí; na verdade que nunca poderá ser elucidada. 

Disse que não sairia de mãos vazias, mas nem cheias. Apenas uma opinião de leitor.

Talvez uma terceira leitura seja necessária.                 

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