23 de janeiro de 2017

Crônicas de Ester: O Pedido de Ádria


O pedido de Ádria

Jorge era exímio lutador, mas não era páreo para todos os demais cavaleiros virtuosos. Venceu alguns com sua espada, feriu outros, mas logo teve sua arma desprendida do braço. Rendeu-se. Miranda acompanhou tudo apreensiva.
— Ela escolheu a mim! — argumentou o líder.
— Não a ouvimos dizer isto.
— Pois diga, Miranda. Diga a eles que vamos nos casar!
— Não — falou Miranda — Caso-me com o cavaleiro mais habilidoso.
José Mendonça que a tudo ouvia, exaltou-se.
— Eles se matarão! Tens consciência disso?
Miranda deu de ombros. Falou-lhe:
— Não aceitarei nada além do melhor. Não sou gorda e feia como antes.
Notando que disputavam a mão da mulher mais bela do mundo os cavaleiros desfizeram a união de até então. A luta deveria ser individual e neste ponto, Jorge recuperou sua vantagem. Hipnotizado por Miranda, atacou os próprios companheiros, vencendo-os um a um, até permanecer sozinho diante da dama.
— Matei todos os meus adversários para que reconhecesse minha bravura. Sou digno de ser teu marido.
— Tens razão, és digno. Casaremos.

Um dos cavaleiros virtuosos sobreviveu à disputa por Miranda e correu relatar tudo para rainha. Ele chegou ao reino de Ádria dias depois e informou que Sir Jorge havia enlouquecido, dizimando toda a sua tropa de cavaleiros e que casaria com uma dama muito bonita, cujo nome era Miranda. A rainha se enfureceu. Dispensou o virtuoso e caminhou até a saída do salão do trono.
— Preciso de sua ajuda, meu pai.
Depois de dizer a si mesma estas palavras, a rainha dirigiu-se até o antigo calabouço no qual permaneceu morta e presa com o marido tempos atrás. Ela sabia que o local era mágico. Sabia, também, como pedir ajuda dali. Suas decisões como chefe de governo, muitas vezes vinham de lá.
O lugar estava infestado de serpentes. As cobras capazes de transitar entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Ádria tinha poder sobre elas, desde sua ressureição.
— Tragam-me meu pai — ordenou.
Todas as cobras entraram na tumba da rainha e uma luz rubra emanou de lá. Mãos humanas apareceram, antecedendo um corpo forte e nu. O homem se sentou. Sua pele era alva e brilhante. Não dispunha de cabelos, o corpo todo marcado por símbolos mágicos.
— Filha boa, o que desejas?
— Vingar-me. Dê-me o poder para tanto.
— Sabes melhor do que ninguém que nada do que disponho é de graça. O que tens para me dar em troca?
— Do que precisas?
O homem falecido abriu os braços precários. Respondeu:
         — Dê-me um corpo de carne.


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