20 de junho de 2016

O Vendedor de Histórias - Jostein Gaarder



A maior história é a própria vida

Jostein Gaarder é autor recorrente aqui no blog e a explicação para isso é simples: sua literatura me agrada. O modo como o autor norueguês lida com o fantástico, realizando paralelos inteligentes com o real é muito interessante, além de original. Já resenhei O Mundo de Sofia, O Dia do Curinga, O Enigma e o Espelho, A Garota das Laranjas e A Vida e Breve (clicando nos títulos dos livros você poderá conferir as resenhas). Dessa vez, vou falar um pouco sobre O Vendedor de Histórias. 

O Vendedor de História conta a trajetória de Petter, um homem que tem ideias o tempo todo. Sua mente tem facilidade para criar uma história, engendrar enredos, desfechos e sagas fantásticas, Para não perder sua criação, Petter anota a ideia em um papel, o que chama de "enredo para um romance". Ele não desenvolve a história nos seus detalhes pois acha a tarefa desgastante e chata. Depois de criar, para ele, não tem mais graça trabalhar sobre a criação. Quase que por acidente, Petter conhece um escritor. Conta pra ele um desses enredos para romance e o deixa interessado. Por uma bebida o personagem principal vende a sua primeira história. Com os anos o negócio se expande e vários clientes de peso na literatura começam a fazer uso dos serviços de Petter (que sempre se manteve no anonimato). A coisa cresce tanto que a mesma ideia começa a aparecer em mais de um livro e as pessoas desconfiam de que há alguém criando enredos para os autores. É neste ponto que o cargo de vendedor de histórias fica perigoso. 

Paralelamente ao comércio de ideias, conhecemos um pouco sobre o passado de Petter. Sua infância com a mãe que era divorciada do pai. Suas visitas ao teatro e o gosto por boa música. Quando menino, o protagonista já demostrava incrível facilidade para criar histórias e o seu aproveitamento na escola sempre foi excelente. Os anos avançam na narrativa e o personagem conta sua mocidade, seus romances frequentes e inconstantes até culminar em Maria, a mulher que amor de verdade. O relacionamento não vingou, mas Maria lhe propôs um trato. Queria que Petter a engravidasse. Entretanto, não tinha a intenção de constituir família com o amante. Para Maria, Petter era o melhor homem que conheceu e o ideal para lhe dar um filho. O personagem principal ainda viu Maria e a filha uma última vez. Na oportunidade a pequena Boneca (como Maria chamava sua cria) contava com três anos de idade. Petter contou à Boneca a história de Panina Manina, uma acrobata circense que viveu longe do pai... A saga de Manina, revela-se com ironia, a própria história de Boneca e quando as histórias se cruzam, todo o mundo de Petter desaba. 
             
Gaarder é conhecido por se utilizar de conceitos filosóficos em seus romances. Em "O Vendedor de Histórias" a filosofia é sutil. Talvez se limite ao conceito de acaso. O personagem principal é bem construído e montado para ser um intelectual que sabe do seu valor. Por ser narrador, por vezes sua arrogância impõe dificuldade na leitura. Ele tem uma visão egocêntrica de certas coisas e não parece se preocupar muito com os outros. Isso é proposital e tem a ver com o desfecho da história. O seu tombo é grande e a lição edificante. Um bom banho de humildade... 

O Vendedor de Histórias não é o melhor livro de Gaarder, mas tem o seu valor. Principalmente no que tange ao "enredo real" da história. Chamo de real a história do próprio Petter, já que há muitos outros enredos descritos no livro. São as histórias que o protagonista inventa para vender. Tirando a de Panina Manina, não gostei das outras histórias. Achei-as desconexas com a literatura existente em outras obras de Gaarder que sempre prezaram pelo lúdico, pela estética e fantasia. 

Em suma, uma obra bem escrita como se espera do autor de O Mundo de Sofia. Um final surpreendente e perturbador, mas um miolo maçante e custoso a ser superado. 

Fica a resenha e a dica.            

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