28 de março de 2016

Detona Ralph e o Konami Code


Quem jogou ou joga vídeo-game já deve ter feito pelo menos uma vez na vida o código cima cima, baixo baixo, trás frente, trás frente, B, A. Esta sequência de comandos executadas em um controle de vídeo-game abria opções extras, vidas a mais ou outras coisas. 

O filme Detona Ralph faz uma homenagem a este código em determinado momento do filme, observe:


Não é o máximo a referência? Até o controle é o do Nintendinho.

Tem uma lista de games que usam o tal código. O canal Assopra Fitas fez um vídeo sobre este assunto, explicando como o código surgiu e se tornou cultural:



Achei o vídeo muito legal, mas não observei nele a referência que é feita no filme Detona Ralph, por isso resolvi falar dela por aqui. Assim que vi o filme me lembrei do código. 

Fica a curiosidade. 




22 de março de 2016

Ter ódio não é o problema. Achar que você é o bem, sim


Bélica sempre teve ódio, fúria e gana pela vitória. Nas batalhas que lutou, desde a época de Esparta, até o Iraque, odiou cada célula do seu inimigo. As pessoas que a viam tão determinada julgavam-na como vilã ou a personificação do mal.
— Eu não compreendo a associação que fazem do respeito que tenho pelo meu inimigo com o mal — certa vez, ela argumentou com a irmã enquanto a visitava no Sebo. 
— Eles te julgam como são. Confundem de maneira juvenil um oponente com o mal. Assim, cobrem de justificativas suas atitudes e a luta se torna digna.
— Está me dizendo que para eles tudo aquilo que é oposto é tido como ruim? Que não há diferença entre um embate e a dignidade? Odeio meu inimigo, mas o vejo como digno. 
— São egoístas, Bélica. O que é alheio a eles é ruim, já que se consideram bons. 
— Talvez não sejam dignos, minha irmã.
— Não diga isso, está falando como eles.
    
   

18 de março de 2016

Dado Vila-Lobos: Memórias de um Legionário



Viva a revolução da geração coca-cola!

Você já deve ter ouvido falar de Dado Vila-Lobos, certo? Legião Urbana? Renato Russo? Pois bem, este livro é uma biografia da própria banda de punk-rock dos anos 80/90, embora tenha o propósito de ser uma autobiografia. É que as memórias de Dado Vila-Lobos, guitarrista da Legião Urbana, foram transformadas em livro por Felipe Demier e Romulo Mattos. 

A obra reúne toda a trajetória da banda de Brasília. Contanto, inclusive, os primórdios do "bum do rock", ocorridos lá na capital do país. Segundo o próprio Dado, eles viviam uma espécie de momento "faça você mesmo", no qual todos queriam ser astros do rock, sem ter ideia do que era necessário para alcançar este objetivo. A vontade foi determinante para que a Legião se formasse efetivamente, assim como outras bandas locais. Ele cita constantemente o Capital Inicial, uma espécie de banda irmã da Legião, cujo sucesso se estende até os dias atuais. O legionário explica que os integrantes de uma banda chamada Aborto Elétrico se dividiram entre a Legião Urbana e o Capital Inicial. Inclusive as músicas.

Conta a luta para conseguir lançar o primeiro disco (Legião Urbana) e o sucesso que ele alcançou após o seu lançamento. Depois, comenta sobre a expectativa para o segundo álbum da banda, que seria determinante para a consolidação da Legião no mundo do rock. Havia uma lenda de que artistas só poderiam ser considerados de sucesso se superassem a barreira do segundo disco. Neste ponto ele lembra do RPM e seu famigerado "Rádio Pirata". A Legião Urbana passou com louvor pela prova do segundo disco, pois "Dois" vendeu mais do que o álbum de estreia. É neste tempo que as primeiras polêmicas envolvendo o grupo começam a aparecer. Principalmente com o vocalista Renato Russo. 

Depois veio "Que país é este?" o disco que concebeu à Legião o status de revolucionária. Um disco forte e crítico que analisava de forma coerente o que ocorria do Brasil naqueles dias. A luta pela democracia, as pessoas nas ruas exigindo o fim da Ditadura Militar. Algo semelhante o que ocorre hoje, embora não tenhamos ditadores (legalmente falando) e nem legionários. Os problemas com shows atinge o seu ápice aqui. Dado narra o episódio do show que virou um verdadeiro quebra-quebra em Brasília. 

A banda resolve mudar de ares no próximo álbum, o disco "As Quatro Estações". Nele há um ambiente mais ameno, músicas introspectivas. Se em "Que país é Este?" falavam das instituições, em "As Quatro Estações" o foco era a pessoa. Dado considera este disco como o melhor da banda e foi aqui que a Legião alcançou o seu auge (1990). No finalzinho da turnê de "As Quatro Estações" a banda descobre que o vocalista Renato Russo está com Aids, doença que era um sentença de morte nos início dos anos 90.                    

O legionário continua sua narrativa contando peculiaridades de todos os discos seguintes: "V" de 1991, "O Descobridor do Brasil" de 1993 e "A Tempestade" de 1996. O disco "Uma Outra Estação" de 1997 acabou sendo lançado após a morte do vocalista da Legião. Os demais álbuns são coletâneas ou especiais. Sobre os momentos finais da banda, Dado comenta que nunca ouviu "A Tempestade" depois de gravar. Tem uma energia diferente, é um disco triste, terminal. Ele explica que o Renato precisava se manter trabalhando para não pensar em sua doença e por isso decidiu que a Legião Urbana faria um disco duplo. "Temos que gravar tudo!" ele falou, pois pressentia que não tinha muito tempo. Como sabemos, ele estava certo, já que o álbum duplo que se chamaria "O Livro dos Dias" nunca foi lançado. No seu lugar o álbum "A Tempestade"chegou a ganhar as lojas antes da morte do vocalista da Legião e posteriormente "Uma Outra Estação", fechou as últimas músicas gravadas por Renato Russo. Assim "O Livro dos Dias" foi dividido nestes dois discos mencionados. Ambos possuem uma carga emocional exagerada, tanto pela voz frágil que se faz presente quanto pelo teor das letras. 

Em suma, "A História de um Legionário é um livro que conta sem rodeios a história de uma das maiores bandas do Brasil, mas o faz sob a visão de quem esteve lá. Para nós que temos apenas uma breve noção do que foram aqueles dias, fica o relato e um pouco mais de conhecimento sobre o mundo da música lá nos anos 80 e 90. 

 No fim sempre houve a esperança de que tudo pudesse de uma hora para outra mudar, deixar de ser, ser outra coisa. Esta esperança compeliu Renato Russo a continuar até o fim, a deixar um legado que atravessa as décadas e se renova a cada disco refeito, a cada cover montado. 

Fica a resenha e a dica.             

17 de março de 2016

O problema é ele


Sublime passava o pano úmido sobre o balcão da sua loja de revistas usadas, quando o senhor Alfredo entrou. Ele vinha com um jornal de hoje que tinha na capa a seguinte manchete: "Presidente atuou para evitar prisão de membro do seu partido, indica gravação". Estava irritado e disposto a reclamar com a primeira pessoa que encontrasse. 
Foi o que fez. Descarregou toda a sua ira sobre o acontecimento. Sublime o observou em silêncio, mas atenta. Achava-o curioso.
— O que você acha?  perguntou ele.  Como dona de uma loja de livros, deve ter lido muito sobre política. 
Ela lhe respondeu:
— Li um pouco sobre os homens. O que posso dizer é que se há algo errado nos governantes, por certo há o mesmo com os governados. 
O Senhor Alfredo não compreendeu os dizeres da estranha vendedora de livros velhos. 
— Estou te perguntando sobre o governo. Não percebe que é corrupto? Que temos que tirá-lo do poder? 
Foi a vez de Sublime não compreender.       
   

14 de março de 2016

No começo


No começo alguém cantou, mas não havia ninguém para ouvi-lo. Embora não fosse possível ouvir, sabia que cantava e mais que isso: sabia que alguém, quando existisse, saberia que a Música foi cantada. No exato momento em que a Música se fez nasceram as três criaturas que seriam mandadas à Terra para estudá-la. Elas eram as Notas Musicais. Uma, representava a força, a garra, a vontade e os homens a chamaram de Bélica. A segunda, representava a beleza, a estética, o bem e foi chamada de Sublime. A última, representava o que o homem não compreendia, o além, o superior e foi nomeada de Suprema. 

11 de março de 2016

O homem justifica o seu erro com o erro alheio



Otávio é um homem resolvido. Não perde tempo com bobagens, nem procura justificar suas atitudes. Para ele, se está atrasado, tudo é válido. Se há possibilidade de ganho, tudo pode ser feito. Ele não é o único a pensar assim. Há um sistema e ele funciona bem. Ele se lembra de uma frase que leu em algum lugar ou ouviu de alguém: A melhor defesa é o ataque. Não havia como atacar agora. Nunca imaginou que um dia seria cobrado das ínfimas atitudes que praticou em prol do sucesso. Ainda mais por um demônio. 
— Achei que o diabo não existisse  ele rasteja para o canto do seu apartamento. 
O capacete gótico é recolhido para dento da armadura, como se houvesse derretido. Bélica revela o seu rosto.
— Não sou ele. 
 Eu peço perdão! Não me mate! 
— Quem disse que vou te matar? Eu só desejo entender. Vivi incontáveis eras, lutei inúmeras guerras e arquivei minhas conclusões sobre sua espécie para novas batalhas, mas há algo em você que não entendo.
Otávio se senta. Ele ainda está no chão. Afrouxa sua gravata. 
Bélica continua:
 Como pode se sentir bem, sabendo que uma atitude sua prejudica inúmeras pessoas? 
— Eu não sou o único que faz isso. Todo mundo faz! 
 Isto é suficiente para aplacar o remorso? Para te dar paz? 
Otávio nunca havia pensado nisso.           

9 de março de 2016

Manual Estratégico de Comunicação Empresarial/Organizacional de Shirley Cavalcante



Um guia acadêmico para entender a comunicação empresarial

A autora Shirley Cavalcante é especialista em Gestão Empresarial e de pessoas. Em sua obra "Manual Estratégico de Comunicação Empresarial/Organizacional" ela compartilha um pouco do seu conhecimento com a comunidade leitora. Escrito em linguagem acadêmica e disposto como um verdadeiro trabalho de conclusão de curso, a obra visa indicar as melhores ferramentas de comunicação institucional.

Em outras palavras, o livro enfoca as estratégias possíveis para que uma empresa alcance o seu consumidor. A autora é diretora da SMC Comunicação Humana e tem realizado um ótimo trabalho com escritores que almejam divulgar o seu trabalho. Ela foi uma das divulgadoras do badalado Festival de Literatura do ano passado. Além disso, mantém um espaço de divulgação exclusivo para autores, o Divulga Escritor

Nesta obra específica, o tema propaganda é trabalhado de várias formas. Inclusive reflexiva. As estratégias sugeridas no Manual da autora são colocadas em prática por ela nos espaços mencionados anteriormente. Elas têm mostrado resultados e unindo escritores pelo Brasil. 

Quer entender um pouco de divulgação? Esta obra é indicada para você. 

Fica a dica.       

4 de março de 2016

O dilema


Dilema é a necessidade de alguém escolher entre duas saídas contraditórias e igualmente insatisfatórias (assim está no dicionário). Funciona mais ou menos assim: o indivíduo está diante de duas alternativas ruins e deve optar por uma que julgue "menos ruim". De todo modo, ele sofrerá as consequências de sua atitude. 

Muitos escritores levaram esta concepção para suas histórias e tomo a liberdade de citar um caso. O de William Styron em seu "A Escolha de Sofia" (já resenhado aqui). Advirto o leitor de que o texto a seguir conterá spoilers do enredo do livro e que se preferir não conhecê-lo, pule para o parágrafo seguinte. Em suma, o autor em A Escolha de Sofia coloca a própria Sofia no dilema de escolher qual dos dois filhos deverá morrer da câmara de gás pelos nazistas. 

É muito impactante para nós leitores ser colocado na pele da personagem que está diante de um dilema. Consegue se imaginar mantando um filho em prol de outro? Em todas as coisas que passariam por sua cabeça para tomar a terrível decisão? 

Esta ideia é a que norteia o meu novo livro. Ele será lançado no segundo semestre deste ano pela editora Penalux, como já informei. Trará a perspectiva de um homem que colhe as consequências de ter passado por um dilema:

"Ok, pai, lamento pelo fim do seu casamento. Compreendi tudo o que você me explicou até agora, mas ainda continuo sem entender o que te fez escolher qual de nós deveria morrer. É por esta explicação que estou aqui. Eu estava lá no dia do acidente; eu estava entre a vida e a morte, à mercê da sua decisão. Sofri diretamente o peso da sua escolha. Sofro ainda. Você tem uma versão do que ocorreu, mas não sabe a minha. Nunca imaginou o que é estar do outro lado; prestes a cair, presa apenas por um aperto de mão. Eu te vi; eu te via ora olhar para mim, ora para minha irmã. Vivenciei os momentos que antecederam o que nos aflige. Eu não te entendo e creio que você também não me entende. Você não sabe como sua escolha foi interpretada por mim."  Trecho de Por quê, pai? de Paul Law

As emoções humanas, a inconstância da vida, a aleatoriedade são boas justificativas para o fascínio pelo dilema. O medo também. 



Fica a singela reflexão. 
       

1 de março de 2016

A Noiva Fantasma de Yangsze Choo


Uma viagem ao Além, mas um Além diferente do que você conhece

Você sabia que no passado, na cultura oriental, era usual casar uma filha com um fantasma? Os antigos asiáticos acreditavam que o espírito poderia se acalmar, caso tivesse uma esposa, já que por um infortúnio qualquer, deixou este mundo antes que pudesse contrair matrimônio. É exatamente esta "ideia" que serve de base para a "A Noiva Fantasma" de Yangsze Choo. 

A história de Li Lan (nossa protagonista) se dá em Malaia, uma península do sudeste asiático, no ano de 1893. Começa justamente com o pai de Li Lan contando-lhe sobre o convite que recebera para unir a filha ao herdeiro da família Lim falecido há algum tempo. A ideia soa absurda para Li Lan e seu pai, embora estivessem passando por dificuldades financeiras. A família Lim era tradicional e dispunha de ótima condição financeira, de modo que se Li Lan fosse casada com o fantasma de Lim Tian Ching (o noivo fantasma) nada lhe faltaria em vida. 

Mesmo se negando a assumir o mórbido compromisso Li Lan se envolve com a família Lim. Ela conhece a mãe do seu pretendente, a irmã e seu primo, este último por quem acaba se apaixonando. O problema da jovem asiática começa mesmo quando ela passa a receber visitas do pretendente a noivo em sonhos e é a partir desde ponto que o sobrenatural se apresenta à história. Diferente do que se pode deduzir num primeiro momento Li Lan não travará seu embate no plano dos sonhos ou na realidade. As circunstâncias a levarão ao Além, onde verdadeiramente se revelará os motivos do seu pretendente e as reais intenções das pessoas que conhece. 

Não se pode deixar de mencionar o aliado da noiva fantasma, o enigmático Er Lang. Ele a conduzirá pelos caminhos do outro mundo e a ensinará a se portar por lá, o que não é uma tarefa fácil, já que as regras são diferentes. Para se ter uma ideia, seguindo as lendas asiáticas sobre o Além, os fantasmas precisam de oferendas para "viverem" bem do lado de lá. Como a família Lim é abastada e dedica muito tempo em oferendas aos seus mortos, o espírito de Lim Tian Ching possui variados recursos. Funciona assim: se a família do morto desejar que seu parente tenha no outro mundo dinheiro, deverá queimar "dinheiro funerário" (uma espécie de nota especial para ser oferecida aos mortos, comprada com dinheiro real) e oferecê-lo ao fantasma. Assim que a oferenda é feita, o dinheiro é criado no Além. Assim é com outras coisas, como animais, criados e comida. A ideia que norteia o sistema de oferendas é a de que os mortos precisam ser lembrados pelos vivos constantemente. Um fantasma renegado pela família será considerado pobre e desgraçado no Além, podendo ser escravizado ou contratado por fantasmas em melhores condições. No Além a família Lim é dona de uma das maiores mansões e emprega diversos outros fantasmas. Vale lembrar que o Além é um local de passagem, não de permanência. Os mortos serão ainda julgados para só então saberem dos seus destinos.

A Noiva Fantasma segue os conselhos de Campbell ou Vogler, mostrando uma heroína em seu mundo comum e que ao ingressar no mundo especial passa pelas provações e retorna amadurecida. A Li Lan do início da história é totalmente diferente da do fim, mostrando claramente o impacto da aventura na personagem. Falando em personagens, há um trabalho de refinamento em todos eles, mesmo nos "menos fantásticos". A intenção de cada um não é previsível na maioria das vezes e o desfecho dado a cada um dentro dos seus próprios núcleos é satisfatório. O destaque vai mesmo para a integração da protagonista com o personagem fantástico Er Lang. Li Lan, por sua vez, como dito amadurece substancialmente ao longo da sua jornada. Para o leitor, este amadurecimento é acompanhado pela surpresa sobre o passado da família da protagonista.

Em resumo, a Noiva Fantasma é um romance sobrenatural rápido, original por utilizar-se de lendas orientais e muito bem construído. Se peca, por assim dizer, seria em ser previsível em um ponto determinante da saga, mas que não me cabe elucidar, pois revelaria a chave do enredo. Choo que é descendente dos malaios fez um ótimo trabalho ao resgatar as lendas do seu povo e ainda nos brindar com uma boa história.

Fica a resenha e a dica.

Abraço.