9 de outubro de 2015

Tomo XIX - Neo Texas


Devidamente vestida, Mae deixou o local que passara a noite.  
— Espere — Damian apareceu na entrada da tenda, envolto pelo lençol. — Eu quero ajudar.
— Não. Há pessoas que dependem de você. 
Ele riu. Ela franziu o cenho. 
— Não percebeu ainda, não é? Eu estou sempre correndo atrás de você, Mae. É melhor irmos juntos resolver o que você tem pra resolver, porque estou farto de chegar depois. Nem adianta fugir, moça, porque eu sempre te encontro. 
Foi a vez de Mae sorrir. Ela se aproximou do companheiro. Beijou-lhe os lábios. 
— Obrigada, mas eu tenho de fazer isso sozinha.
Damian não escondeu o seu descontentamento, mas assentiu. 
— Então aceite novas armas e completar o avermelhamento antes de partir. 
— Ok. 
Ambos caminharam entre as tendas até uma carroça metálica de seis rodas, desprovida de cavalos. Sua porta originalmente era destrancada por um mecanismo de leitura ocular, mas estava desativado e a segurança era mantida por uma corrente e cadeado. Wayne tirou do bolso uma pequena chave.
— Esta belezinha ia pra capital. Caiu no meu colo, acredita? Atravessava o deserto sem nenhum tipo de segurança. 
Quando a porta se abriu Mae identificou duas prateleiras laterais preenchidas com armas. Espingarda, fuzil de precisão, de assalto e metralhadora leve. 
— Prefiro revolveres — ela tocou de leve o cabo de marfim pendido de sua cintura. — Acabei perdendo um em Liandra. 
— Eu sabia que ia dizer isso. Por isso escondi as melhores. 
Damian abriu uma tampa metálica do assoalho da carroça e tirou de lá uma caixa aveludada, vermelha. Um click e ela se abriu revelando duas pistolas prateadas com cabos emborrachados. 
Mae retirou uma da caixa. Era pesada, bem polida, de cano longo e grosso. Girou entre os dedos e guardou no coldre vazio.
— Se tivessem uma dessa quando batizaram a Lei do 30, o nome seria outro — Damian comentou. 
Mae retirou o seu velho revolver de cabo de marfim do coldre e o substitui pela segunda pistola prateada. 
— Calibre 45 — ela disse. — Já fui baleada por uma dessa. Dói pra cacete. 
— Achei a sua cara. 
Depois ele agarrou uma espingarda. Disse:
— Mae, preciso de meia hora para deixar instruções aos membros da Tenda. Eu não suporto mais te ver partir. Dei sorte de reencontrar você até agora...

Damian mal acreditou quando retornou ao local marcado com Mae. Ela estava lhe esperando. Preparavam os animais, quando o pistoleiro ainda sem jeito indagou:
— Qual é o plano?       
— Não há plano. Vamos à Neo Texas e procuramos pelo meu filho. 
— Mas, pela porta da frente? 
— Eu tenho entrado assim ultimamente. 
— Eles vão te matar; nos matar, aliás. 
— Talvez. Sabemos que Morrison gosta de espetáculos, por isso há a chance de ele reservar um para nós.
— Então o plano é enfrentar os policiais no lugar onde eles são mais fortes? Isso é loucura.
— É claro que é. Por isso disse para não me acompanhar — ela apertou as fivelas da cela do seu animal. 
— Foda-se — ele montou em seu cavalo. 
A cavalgada até Neo Texas seguiu tranquila por todos os dois dias. Quando a grande cidade foi avistada do alto do pico West pela dupla, não houve como esconder a admiração. Nada como aquilo fora visto antes. Prédios em ruínas, mas enormes se estendiam por todo o horizonte. A selva de pedra divisava com a mata comum em vários pontos, ao passo que carroças preenchiam as ruas. Uma torre alta exalava fumaça grossa e um cheiro ruim preenchia o ambiente. 
Mae deu com os calcanhares nas costelas do seu animal e rumou para a entrada metálica daquele pavoroso local. Assim que se aproximou do portão reluzente de alumínio um sinal de alerta se fez audível. Damian comentou:
— Nada como um alarme estridente de boas-vindas. 
O portão se abriu eletronicamente e revelou um exército de policiais de branco. Mae olhou de soslaio para o comparsa:
— A gente tem duas opções: se entregar ou se divertir. Qual vai ser? 
— Você está brincando que vou perder esta chance — Damian sacou a espingarda. 
Disparou. Um dos homens de Morrison foi arremessado com o impacto do calibre 12. Os policiais avançaram. Os bandidos se dissiparam e o exército de policial se dividiu. O portão ficou desprotegido. Mae sacou uma das armas e disparou contra os inimigos mais próximos. Foi alvejada nas costas, no ombro e na coxa, mas não deixou de correr. Escondeu-se ente as ferragens do que um dia foi um automóvel. Escutou o tiroteio entre Damian e os outros policiais. Recarregou as armas e traçou a rota, não estava distante dos portões da cidade. Um tiro, um cérebro despedaçado. Correu. Entrou em Neo Texas com as duas 45 empunhadas. Gritos, empurrões. Ninguém conseguia entender o que estava acontecendo. Novos tiros, Damian ainda estava lá fora. Então um projétil de fuzil lhe rasgou o ventre. Caiu. Arrastou-se para fora do alcance dos franco-atiradores. Levantou-se, a mão no ferimento, estava encurralada. Ergueu a mão esquerda em sinal de rendição. 
Ela disse:
— O meu filho. Quero vê-lo e depois poderão fazer o que quiser comigo. 
A resposta que teve foi uma coronhada de espingarda no nariz, promovida pelo policial mais próximo. Ela deu dois passos para trás. Levou a mão ao ferimento. O homem da lei ordenou que a desarmassem. Enquanto realizavam o procedimento, Mae avistou um grupo de policiais trazer Wayne rendido. Ele lhe sorriu quando foi empurrado para junto dela.   
Um policial agarrou o rádio que vinha preso a sua cintura. 
— Xerife, estou com os dois bandidos aqui. 
Damian que tinha os braços algemados buscou nos olhos da companheira as próximas ações. Ela se mantinha alheia a tudo. O policial então se aproximou dela e falou:
— O chefe está descendo para revolver tudo. O que você fumou para vir aqui? 
Ela o encarou. Respondeu:
— Eu só fiz uma exigência.
— Não está em condições de exigir nada — ele deu um soco no rosto de Mae. 
Ela caiu. O chapéu se desprendeu da cabeça. Ajoelhou-se e se colocou em pé mais uma vez. 
— Um pedido. 
— O Xerife vai dar um jeito em vocês — o homem se afastou. 
Morrison não demorou a chegar em seu cavalo branco. Estava mais gordo do que da última vez que foi visto pelos bandidos. Desceu do animal, trocou algumas palavras com o policial que agredira Mae e depois se aproximou dos rendidos. 
— O filho, não é? 
Ela maneou a cabeça sem coragem de fitá-lo diretamente. 
— Eu me lembro de você. Fiz o seu amante te trair, matei o seu chefe na sua frente. Te fuzilei e você quer ver o seu filho?
Ela continuou silente. Os policiais riram. Roland continuou:
— Tem uma coisa que eu não fiz com você — ele abaixou o zíper da calça. 
Damian começou a gritar e tentou avançar em direção ao xerife, mas os policiais o impediram. Ele continuou gritando até que foi silenciado por socos e pontapés.
— Parker tinha mesmo razão. Você é uma vagabunda muito gostosa. Agora que eu já fiz tudo o que tinha de fazer, não vejo mais nenhuma utilidade em te manter viva.
— O meu filho! Deixe-me vê-lo. 
— Não — Morrison sacou o revólver e mirou na mulher prostrada aos seus pés. 
— Me deixa conquistar o direito — Mae disse ainda do chão. 
O xerife franziu o cenho.
— Conquistar o direito? 
— Coloque seu melhor homem contra mim. 
Ele sorriu.
— Um duelo — guardou a arma no coldre

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