30 de setembro de 2015

Arco-Íris do Núcleo dos Escritores


Treze visões do mundo

Arco-Íris é a primeira antologia do Núcleo dos Escritores. Trata-se de um livro de contos, poesias e crônicas escrito por treze autores de Moji Mirim e Mogi Guaçu. Nele nos deparamos com interpretações singulares da vida e da literatura de forma geral. Uma mistura de cores e ideias, cujo objetivo é dar voz conjunta à imaginação dos escritores regionais. 

O prólogo do livro foi escrito pela autora de "Sombras do Medo", Camila Pelegrine. Em seguida, os textos vêm em ordem alfabética e os capítulos divididos por autores. Eles começam com uma biografia resumida. Temos o escritor André Rodrigues abrindo Arco-Íris com o seu conto "O Calango e o Pedreiro" e seguimos com Atahyde Martins com suas poesias e contos, destaque para o conto "O Mistério de Pedro Virgem". A já citada Camila Pelegrini escreveu três contos. Ênfase para "Verdade ou Desafio". O poeta da Academia Guaçuana de Letras Cícero Alvernaz deixou sua marca, principalmente com o conhecido poema "Artífice dos Sonhos". Além dele, Dorothi Fernandes, escritora de Moji Mirim, fez poesia com Lembranças, Mistérios e Caminhos.   

Merece destaque a participação da conhecida escritora Fátima Fílon com sua "magia" de sempre. O poema "O Atalho da Vida" de sua autoria é de tamanha beleza, simplicidade e mensagem que impressiona. O Arco-Íris segue com os textos sombrios de Joseph Martins que logo são abrandados pela poesia atenta de Eliana Silva. Depois vêm Luiz Antonio Padovani e Luís Henrique da Rocha Campos, assim como a poetisa das águas do Mojiguaçu Maria Ignez Pereira. O livro vai fechando com os meus contos e do poeta Paulo Tristão. Tudo acaba co o epílogo de minha autoria. 

O livro é bonito, a capa bem feita pela artista Ana Paula Souza. A impressão da editora Ixtlan e a diagramação de Márcia Todeschini também estão boas. Os textos mereciam uma edição mais cuidadosa, mas isso não tira o mérito do grupo em idealizar e concretizar a obra em conjunto. Leitura multifacetada e agradável que serve de incentivo aos outros tantos autores vizinhos que ainda não realizaram o sonho de estar em um livro. 

Fica a resenha e a dica.
Abraço.                

28 de setembro de 2015

A Paz do Homem


Quando alguém deixa de existir é comum ouvirmos a expressão “descanse em paz”. A interpretação que me vem é a de que para ter paz é preciso morrer ou pelo menos descansar. Daí, alcanço a dedução de que é difícil alcançar a paz. Indo mais longe é quase uma utopia pensar em paz verdadeira e já explico os meus motivos.

Nossos dias são tomados por várias tarefas. A maioria delas é necessária para se alcançar determinado objetivo. Um curso para uma profissão rentável; um trabalho bem feito para uma promoção na empresa; uma poupança para um carro melhor; um investimento para aumentar a clientela. Nada é feito à toa. Sempre que fazemos algo, imaginamos colher os frutos das nossas ações e quando isso ocorre, sentimos o que chamamos de realização, satisfação, sucesso, felicidade. Há muitas palavras, mas não há paz.

Para haver paz é preciso existir o que temos no sono ou (quem sabe?) na morte: despretensão. Já reparou? Quando dormimos não pensamos nos benefícios de uma boa noite de sono, embora eles existam. Adormecemos e pronto. O ato de dormir exaure-se em si mesmo. Em outras palavras, adormecer é adormecer, nada além disso. 

Podemos levar esta premissa à Natureza. Nela não existe acontecimentos prévios, cuja necessidade seja conscientemente justificada para a obtenção de outra coisa. Apesar de sabermos que é preciso chuva para florir; que é necessária terra boa para a semente ser convertida em planta, tanto a planta quanto a semente não possuem a capacidade de pensar que se não ocorrer chuva, se não existir terra apropriada, não haverá existência. As coisas simplesmente acontecem e vão continuar acontecendo. O vento venta e só. Por isso, ele está em paz.

Tal qual o vento que é o que faz, deve ser o homem em paz e é por isso que é tão difícil sê-lo. O homem não sabe o que fazer; não achou sua natureza e cada vez mais se distancia do caminho que poderia levá-lo a ela. O contrário a paz, obviamente é a guerra, a violência, a insanidade, muitas vezes vestida de hipocrisia. Neste contexto, o homem simula a paz. Os mais sensíveis percebem que há algo de errado no Mundo, embora não possam afirmar o quê. Eles acabam sendo contaminados pelo tempo em que vivem e se tornam grandes hipócritas. Então se frustram; não desejam ser falsos, artificiais. É contra a natureza humana fingir; é contra a natureza do universo. É contra a paz. É por tudo isso que o homem só alcança a paz em sonhos ou nos braços da morte.



Texto originalmente publicado pela revista Vara do Brasil Especial: Paz na Terra e no Coração. Eis o link para baixá-la:


  

24 de setembro de 2015

Tomo XVII - A morte de Xamã


Toda vez que era gravemente ferida, Mae sentia a dor de morrer, mas nunca era o sofrimento derradeiro. Ali, sendo baleada, ensanguentada, quebrada em vários lugares preferia a morte. Os ouvidos úmidos identificavam a euforia, a crueldade. Novos tiros, abriam novas feridas. Os olhos ainda identificavam o mestre sendo fuzilado. Ocorreram sucessivas perdas de consciência. 
Quando o cérebro conseguiu se manter ativo por tempo considerável, identificou amarras, nudez e praça pública. Estava no canto esquerdo, no centro Xamã. Dançavam lá embaixo, era noite. 
Uma festa. O que aconteceu com Damian e os outros bandidos? Bruce, aquele traidor. Um homem de farda branca notou que ela recuperara a consciência e se aproximou.
— Que bom que acordou, docinho. Não queríamos que perdesse a melhor parte da festa. 
Xamã mantinha-se inconsciente, os joelhos dobrados. Mae o chamou, em vão. As pessoas riam e apontavam para ela. Alguns jogavam pedras. Quando uma a atingiu na testa, o filete rubro voltou a escorrer do seu rosto. Sentiu vontade de chorar, não era forte o suficiente. 
A euforia aumentou, Roland Morrison subiu ao palco onde estavam os bandidos. Ele vestia um terno dourado, cuja estrela prateada reluzia na parte esquerda do peito. A gravata borboleta também era amarela, o chapéu: branco. Pediu silêncio. 
— Povo de Prime, boa noite. Temos aqui dois bandidos, um inclusive, o mais famoso deles: Xamã — apontou para o homem inconsciente. — Nós os pegamos com a ajuda de um deles, agora preso a fim de ser julgado posteriormente. Quanto a estes dois, pensei em fornecer a vocês a possibilidade de julgá-los. 
As pessoas que ocupavam toda a praça manifestaram contentamento. Morrison pediu silêncio.
— Xamã e o seu pessoal saquearam várias cidades. Mataram muitas pessoas. Hoje é o dia de pagar por isso. Minha pergunta é: devo executá-lo em praça pública ou não? 
Um terrível e sonoro sim invadiu os ouvidos de Mae Dickson. O som alto despertou o líder dos bandidos que não compreendeu o que estava acontecendo. 
— Muito bem — continuou o xerife — Primeiro ele ou ela? — apontou para os pistoleiros amarrados.
— Ele! — gritaram todos.
Mae se debateu inutilmente, enquanto gritava a palavra não. Xamã, por sua vez, ergueu o queixo e encarou a morte de frente. 
— Tragam-me a espada — falou Roland. 
Mais euforia enquanto um policial se aproximava com uma catana envolvida em um pano vermelho. 
Roland ordenou:
— Tirem-no do poste. 
Os policiais desamarraram Xamã do pau de arara e amarraram suas mãos para trás. Deram um chute em suas pernas para que se ajoelhasse. Mae chorava, proferia palavrões. 
— Eles vão chutar a sua cabeça! Vão destroçar o seu corpo imundo, sabe por quê? Porque são furiosos, violentos e egoístas. Cadê os seus poderes místicos agora, Xamã? 
Então o líder dos bandidos virando o pescoço para poder ver ainda que de soslaio o seu algoz, disse:
— Você terá o meu corpo, mas jamais o meu espírito! 
— Eu não preciso mais do que da sua humilhação. O que acontecerá aqui, servirá de exemplo para outros como você — ele desembrulhou a espada do manto branco.
O xerife de Neo Texas ergueu a arma branca e mirou o pescoço do homem nu em sua frente. Com as duas mãos em riste, esperou por uns segundos. Depois desceu o braço e a espada com violência, mas não conseguiu desprender a cabeça do corpo. O sangue espirrava a cada tentativa de respirar que Xamã realizava. Houve espasmos que Morrison acompanhou pacientemente. O líder dos bandidos rastejou sobre o próprio sangue por um tempo, mas depois parou de se mexer. 
A multidão bateu palma e gritou para que fosse arrancada a cabeça. Morrison se abaixou e agarrou os cabelos do caído. Passou a lâmina sobre o ferimento aberto e a friccionou para terminar o seu serviço. Levantou a cabeça de Xamã. Pouco depois, jogou-a à plateia. 
Eles brigaram entre si para chutar o pedaço do executado. Mae já não tinha mais lágrimas e sabia que seria a próxima. Por mais que desejasse ter uma postura digna, tal qual o seu mestre, sabia que não conseguiria. Tinha certeza, também, que por ser mulher a sua sentença teria partes extras. E se a jogassem à multidão enlouquecida?
Quando a sua mente alcançou esta dedução, um disparo espalhou os presentes. Gritos, a cabeça de Xamã desfigurada abandonada sobre a areia.
Um bandido foi avistado em cima do telhado do bar. Policiais sacaram suas armas e dispararam contra ele. Roland ao perceber que estava sendo atacado, deixou o palco por entender que o local era um alvo fácil. Seguido de outros policiais foi se abrigar em um lugar seguro. Em outro local outro disparo foi ouvido. Dessa vez um projétil atingiu o peito de um policial distraído. 
Mae não soube dizer de onde Damian surgiu, mas não conseguiu conter o alívio em vê-lo. 
— Aquele filho da puta — Wayne dizia enquanto desamarrava a companheira. 
A pistoleira o abraçou com forças que até então julgava não ter. 
— Vamos sair daqui. Coloquei os novatos para distrair os policiais. Ao final desta noite seremos só nós dois.

22 de setembro de 2015

Arco-Íris chegou

O autor Cícero Alvernaz exibe o seu exemplar

O Núcleo dos Escritores recebeu no dia 20 de setembro de 2015 a sua primeira antologia literária, chamada "Arco-Íris". Treze escritores da nossa região participam deste livro com crônicas, contos e poemas. A própria capa foi desenhada por uma artista daqui. Uma mistura de cores, de gerações e de forma de interpretar a vida que tenho a honra de fazer parte. 

O livro está muito bonito, como se pode observar da imagem cedida pelo escritor Cícero Alvernaz. Eu já li. O grupo se reunirá em breve para definir o lançamento. 

Fique de olho. 
Abraço.      

18 de setembro de 2015

Revista Varal do Brasil especial sobre a paz

ESP PAZ NA TERRA

A Revista Varal do Brasil existe desde 2009. Ela é famosa por conceder espaço aos escritores, sejam conhecidos ou anônimos Está estampado nas capas da revista: "Literários, sem frescuras!". Acho que é por isso (também) que gosto tanto da ideia. O projeto tem por premissa divulgar a literatura nacional na Europa além de valorizá-la. Eu já participei da edição de natal de 2011 com o conto "O Natal de Helena" e agora estou na especial sobre a paz que acabou de sair. Que baixar a revista? Eis o link:

http://varaldobrasil.ch/revistas/varal-no-37b/

Há muitos autores interessantes nesta revista. A própria editora-chefe e idealizadora do Varal Jacqueline Aisenman está lá. A minha participação tem o título "A Paz do Homem". Fica a dica de leitura para o final de semana e o agradecimento ao Varal do Brasil pro mais uma vez me conceber um espacinho em sua publicação. 

Leia as  outras revistas virtuais, conheça mais sobre o Varal do Brasil, participe com os seus textos:

http://varaldobrasil.ch/

Abraço.
      

15 de setembro de 2015

O livro físico de Estela já está disponível



Como havíamos anunciado, hoje, 15 de setembro de 2015, está à venda pela internet e pela livraria Lê&Cia. de Moji Mirim o livro físico de Estela. Estes exemplares estão revisados e corrigidos e diferem um pouco da versão beta. 

A principal diferença consiste na adição de texto narrado no "mundo real" com a intenção de embasar o enredo no mundo de fantasia. Por outro lado, alguns pontos foram simplificados ou focados na personagem principal da história. Bem, é isso. Espero que apreciem Estela. Segue os links de compra do livro físico pela internet, através das minhas lojas virtuais no Facebook.



Likestore:

Livros Indie:

Amigos da região podem passar na Lê&Cia para conferir o livro. Eis o endereço:
Avenida Coronel João Leite, n° 16, Centro, Moji Mirim/SP.

Grande abraço. 

11 de setembro de 2015

Tomo XVI - A virada


Seis pistoleiros conversavam sobre o novo ataque. Um mapa bem gasto estava estendido sobre a bancada de metal da tenda de Xamã. Mae e Bruce escutavam atentamente os dizeres do chefe, enquanto Damian fazia piada com Carter e Sandler. 
— Ok. Damian por ser o mais interessado, ficará com uma parte importante do ataque a Prime.
— O que? — Wayne se espantou — Você disse Prime, a cidade mais antiga de Novo Oeste? Enlouqueceu de vez. 
Bruce descruzou os braços. Disse:
— É de Prime que vem as armas dos policiais. Foi lá que encontraram todo o armamento deixado pelos obsoletos. 
Xamã sorriu. 
— Exatamente. Vamos nos apossar do armamento. Armar todos da Tenda e acabar com esta guerra de uma vez por todas. 
— Senhor, eu não quero ser pessimista — Sandler mediu suas palavras com cuidado —, mas o local deve ser fortemente vigiado. Somos apenas seis.
— Você não está sendo pessimista, Tomas. Isso é sensatez. — falou Damian. 
— Prestem atenção — Xamã voltou-se para o mapa — Eu sabia da existência deste mapa, quando esperei aquela comitiva de Liandra. Ele é uma rota de contrabando de armas. Vamos nos infiltrar pelos túneis. Saquearemos as armas diretamente dos contrabandistas. Não haverá confronto com policiais. 
Todos ficaram em silêncio como se refletissem ao mesmo tempo sobre a estratégia do líder. Ele mesmo continuou:
— Damian e os novatos entram primeiro pelo túnel — apontou no mapa. — Eu, Bruce e Mae ficamos do lado de fora. Depois invertemos. Ganhamos tempo com a manobra. 
Wayne sacou o seu revolver e apontou para o nada. Disse:
— Se vamos primeiro, teremos que dar conta dos ocupantes do túnel, é isso? 
— Sim. Procurem não deixar que voltem. Aqueles que ganharem a saída pode deixar que damos um jeito.
— Parece bom pra mim — Mae deu de ombros. 
Após todos os detalhes acertados, partiram para Prime que não estava muito longe do local onde a Tenda havia se instalado. Bruce comentou com Mae que Xamã já havia traçado aquela estratégia há um tempo, mas que só agora comunicava aos seus comparsas. O místico tinha dessas coisas...  
Já na saída do túnel usado pelos negociadores de armas o grupo de seis cavaleiros se dividiu em dois conforme o plano. 
— Dê-me um — Mae apontou para os lábios de Parker. 
— Desde quando você fuma? — indagou o pistoleiro enquanto observava os outros comparsas sumirem pelo túnel. 
— Desde agora. 
Ele bateu a caixinha na palma da mão e puxou um cigarro. Entregou a Mae. Quando ela colocou o câncer entre os lábios, ele o acendeu. Ela tossiu.
Bruce Parker estava quando antes mesmo dos seus ouvidos reconhecer o trotar de cavalos. Xamã já tinha a mão no coldre quando fitou aquele terrível horizonte. Quantos? Talvez mais de cinquenta policiais sacudiam a poeira da estrada. 
— Oh, merda! — disse ele.
Mae deu um palpite:
— Rápido, vamos fugir pelo túnel. 
Xamã tirou a mão da arma;
— Não seja tola! E levar os inimigos ao encontro dos nossos outros companheiros? Alguém deu com a língua nos dentes, maldição! 
— O que faremos, Xamã?
O líder ergueu os braços. Os policiais se aproximaram dos três bandidos que sugeriam rendição. A comitiva era assustadora, mas apenas cinco cavalos tomaram a dianteira. O primeiro a descer do animal era um homem extremamente magro e alto. Os braços pareciam desproporcionais, as costas encurvadas. A cabeça coberta por um chapéu negro, escondia os olhos, mas era visível a barba alva, os dentes metálicos. 
— Ora se não é o afamado Xamã — ele falou. 
Sua voz era aguda, não condizente com aquele corpo assustador. 
— Morrison — Xamã sussurrou.
Bruce Parker tinha os olhos voltados para o chão e aquilo surpreendeu Mae. Nunca vira o pistoleiro de cabeça baixa. Ela o ouviu dizer:
— Sinto muito, Mae. Ele está com a minha filha e disse que a mataria se eu não entregasse Xamã. 
As palavras não fizeram sentido no começo. A decepção era tamanha que tirava-lhe o raciocínio. 
Ainda de cabeça baixa ele se aproximou dos policiais. Xamã não conseguiu esconder seu descontentamento:
— Então é você! Traidor, filho da puta! Eu o tinha como um filho! Um filho!     
Morrison abriu os longos braços num gesto grotesco, como se esperasse o abraço de Parker. Ele não ocorreu, mas o xerife disse:  
— Os filhos são assim, Xamã. Não vale a pena se sacrificar por eles.  
— Eu quero ver Janni, agora! — o bandido traidor apontou o dedo entre os olhos de Morrison. 
— Mas é claro. Primeiro preciso acertar alguns detalhes. Eu preparei uma festa muito especial aqui mesmo em Prime.
Morrison fez alguns gestos com as mãos, incompreensíveis aos pistoleiros. Aproximaram-se mais oito policiais. 
— Treze é um bom número, não acham? — o xerife sacou seu fuzil. — Vamos atirar, mas não se preocupem, eu os quero vivos para a festa.
Mae viu aquele homem mirá-la. Os olhos saltavam-lhe do rosto, acinzentados. Não tinha sobrancelhas, mas cicatrizes. Teve medo. 
— Um, dois, três!

9 de setembro de 2015

Uma reflexão sobre liderança

O conceito de liderança, de chefe, responsável, presidente, sempre me fez pensar. Não é difícil atribuir um valor a estes termos. Há exemplos aos montes de líderes que se vangloriam do seu status; que invocam suas credenciais sem antes mesmo serem solicitadas. A ideia é estabelecer de imediato que há um desnível entre os envolvidos. Entretanto, como nos ensina G. K. Chesterton em seu O Que há de Errado com o Mundo (este título é uma lástima), liderança pode ser outra coisa. 


O autor nos mostra que a liderança decorre de algo simples: da impossibilidade de poder entender o que todos estão falando ao mesmo tempo. Assim, cabe ao líder aquietar as vozes, através da sua audição atenta para só então proferir o desejo do grupo. Nesta visão não lhe cabe nenhum papel de destaque, de superioridade. Trata-se de um cargo prático e útil. O além, segundo Chesterton, não passa de ego exagerado. 

Trazendo as lições de 1910 para os dias atuais fica quase impossível observar esta essência. Os motivos são muitos e complexos. A supervalorização do eu que tem por base o o comércio violento? As transformações estéticas, unidas à crise ética? Não é fácil apontar o dedo na direção correta. Fato é que esta premissa de mais de cem anos, por certo também baseada em outra mais antiga, tem um quê de verdade. Seria como se aquela palavra tão familiar e que usamos com frequência fosse apagada de nossa mente, embora sua familiaridade ainda se fizesse presente. Sabe quando você sente a palavra na ponta da língua, mas não consegue pronunciá-la? 

O mundo precisa de mais líderes no mesmo patamar dos liderados. O mundo precisa de mais humanos.
         

3 de setembro de 2015

Arte conceitual das marcas de avermelhamento (A Lei do 30)

Quem está acompanhando a saga inédita inspirada em La Bandida aqui no blog sabe que os pistoleiros mais habilidosos de lá, utilizam uma tecnologia chamada Avermelhamento. Trata-se de um processo físico e tecnológico que incorpora ao usuário micro-robôs pré-programados para responderem a ameaça da melhor forma possível. Trocando em miúdos, o pistoleiro tem suas habilidades aumentadas consideravelmente, mas perde o controle sobre elas, pois os tais robôs são automáticos. Fiz uma arte simples de Mae Dickson avermelhada. Confira:

destaque para as veias embaixo dos olhos

Que achou do desenho? Se quiser conhecer mais sobre a Lei do 30 é só acompanhá-la aqui.
Abraço. 

    

1 de setembro de 2015

Tomo XV - Os novos bandidos


Xamã conduziu a Tenda até outra parte do deserto nos dias seguintes. Sua alegação foi de que já era possível identificar a comitiva dos bandidos por causa das ações anteriores. Tudo chegava à capital. Não estavam preparados para uma investida de lá. 
O procedimento para transformar pessoas em bandidos avermelhados se deu logo que se instalaram. Damian, Bruce e Xamã se reuniram numa tenda afastada e entraram num acordo sobre quem merecia a promoção, enquanto Mae Dickson ficou do lado de fora. Duas pessoas foram eleitas: Joe S. Carter e Tomas Sandler. O primeiro era um domador de cavalos da Capital, enquanto o segundo era dono de um bar em Aquária. Ambos estavam no bando há mais de um ano. Damian ficou de treinar Carter e Bruce, Sandler. Xamã continuou com Mae. 
Os dias seguiram tranquilos, apenas com treinamentos, até que numa tarde fria Mae teve uma conversa peculiar com o mestre. Eles acendiam uma fogueira para o jantar naquela oportunidade.
— Ele gosta de você. É o jeito dele. 
— O que está falando, Xamã?
— Bruce.            
— Ele me culpa. 
— Você não se culpa? 
— Depois que o vi em ação, passei a pensar nisso de outra forma. Ele é tão sério; íntegro. Não sei do passado dele, mas algo me dá a certeza de que é um bom sujeito. Quando estamos perto tenho vontade de pedir perdão por minha atitude. 
— Você está apaixonada, menina. Já pensou em amor? Amar faz as pessoas melhores. É o que tínhamos antes da Lei do 30. 
Mae cutucou a madeira em chamas para espalhar o fogo. 
— Como é? 
— Quando amamos só pensamos em fazer o bem à pessoa amada. Deixamos de lado até mesmo nossas intenções particulares. Entretanto, não podemos amar verdadeiramente todas as pessoas. Então havia um código que simulava o amor. 
— Continuo sem entender, Xamã. 
— Lei, Mae. A lei exigia que tivéssemos atitudes de apaixonado, embora não estivéssemos. Você não mataria seu namorado, mas mataria um policial. A lei dizia que era proibido matar independente de quem fosse. Percebe? Ela simula um amor que você não pode ter em relação a um inimigo. 
— Começo a compreender. Então antes da Lei do 30, esta regra de sobrevivência individual, havia simulação de amor? E funcionava? 
— Bem, em alguns casos. O fato é que você ama Bruce Parker e isso já é o suficiente para funcionar com você e ele. 
Após o jantar todos se recolheram. Mae não podia dormir sem ter com Parker sobre os dizeres de Xamã. Dirigiu-se até a tenda do caubói e entrou silenciosamente. Um cano frio foi encostado em sua testa. O som do cão sendo puxado. A arma sendo recolhida, um palavrão. Um beijo. 
A chama da pequena vela tremulava diante dos olhos de Mae quando Bruce a abraçou carinhosamente. Ela sorriu: 
— Acha que ele está vivo? 
— Ele quem?
— O meu filho. 
— Talvez. Lembro que o deixamos em Liandra. 
— Você iria comigo buscá-lo? 

Bruce derrubou a bituca no chão. Ainda pensava na pergunta de Mae Dickson, embora ela já tivesse ido embora. Suspirou. Remexeu em sua velha bolsa e tirou dela um aparelho eletrônico. Puxou uma antena, apertou uma tecla e uma telinha se acendeu em azul. 
— Como ela está? — indagou.
— Ótima, Parker.  
— Eu juro que se você fizer alguma coisa a ela, eu acabo com você! 
— Fique tranquilo, afinal temos um trato não é mesmo? Prepararei uma grande surpresa para breve — ele interrompeu a ligação. 
É preciso dar esperança ao povo. Eles devem acreditar que é possível alcançar certos objetivos. A vida, ela deve ser valorizada. Foi assim ao longo dos tempos; é assim hoje. Os verdadeiros sábios não dizem a verdade por aí. Mesmo que dissessem, não seriam ouvidos porque a esperança é um câncer. Eles sabem disso e por isso se calam. O Xerife Morrison pensa nessas coisas enquanto degusta o seu uísque sem gelo. 
— Ok, Xamã. Acho que você já serviu de exemplo tempo suficiente.