20 de maio de 2015

A Escolha de Sofia de William Styron

 

Não se trata bem de uma escolha

 

O romance do escritor William Styron é conhecido também por causa da versão cinematográfica homônima. Qualquer pesquisa prova que o assunto atrelado à obra diz respeito ao dilema enfrentado por um dos protagonistas quando necessita escolher entre dois filhos, qual deles deverá morrer. Muitos relacionam dilemas dessa ordem a expressão “escolha de Sofia” (já encontrei um juiz que invocou Sofia para justificar sua decisão referindo-se estar diante de dois “direitos irmãos” e que não era possível decidir entre eles). Outros ainda associam os termos “Escolha de Sofia a decisão difícil (seja ela de qualquer natureza). Embora não tenha assistido ao filme atrevo-me a dizer que a visão da eleição tendo como cenário o Campo de Concentração de Auschwitz é deveras tocante (e cruel). Prato cheio para o cinema. Entretanto o livro “A Escolha de Sofia” é muito mais do que isso. É um retrato fiel de uma época de guerra; de suas pessoas e da crueldade humana.

O ponto de partida para a imersão do leitor é quando o narrador conhece Sofia e o seu namorado Nathan. A partir daí Styron divide o seu texto em dois núcleos. Num deles, o que já vínhamos acompanhando, conhecemos mais sobre o narrador/personagem, cuja graça é Stingo. No segundo, por sua vez, nos deparamos com a história de Sofia, contada por ela própria ao narrador/personagem. Os núcleos se entrelaçam, se alteram de forma aleatória e se tornam dependentes. O efeito confere uma visão multifacetada de um enredo complexo e passível de interferência dos personagens. Descobrir quando Sofia diz a verdade é uma tarefa que cabe ao leitor (muitas vezes auxiliado por Stingo). Mais ainda, decifrar até que ponto o próprio Stingo influencia a visão do leitor, dada as suas características peculiares, é outro desafio. Em suma, um enredo rico que pode ser revisto por inúmeras vezes na expectativa de encontrar minúcias capazes de alterar algum entendimento.

Os personagens são marcantes. Destaque para Sofia, uma polonesa sobrevivente da Segunda Guerra que vive nos Estados Unidos trabalhando em uma clínica que faz uso de quiropraxia como secretária e namora um judeu bem apessoado e culto chamado Nathan. Também para Stingo, um jovem escritor estadunidense (sulista) que busca em Nova York a história perfeita para o seu romance. A união dessas duas figuras emblemáticas determina o rumo da história. Há ainda Nathan o namorado de Sofia e toda a sua fúria e amabilidade por mais improvável que isso possa parecer. No fim entendemos o motivo.

Por falar em fim, o livro não acaba. Pelo contrário ele planta no leitor um começo. Uma vontade de entender (ou tentar) os motivos que levam o ser humano a agir da forma que age. Animalesca, inteligente, egoísta, excêntrico, ignorante. Há tantos atributos, mas nenhum parece bastar, porque há dor que não se pode mensurar. Existe escolhas que nos marcam por toda a vida e que podem (talvez fatalmente) determinar o desfecho da nossa porca existência. Um livro grandioso em vários sentidos. É por mérito que é considerado uma obra prima da literatura. Um dos melhores livros que já li e que poderei ler nos anos que me esperam.

Fica a resenha e a dica.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!