13 de abril de 2015

Tomo IV - Estou fumando



Damian Wayne organizava o seu pessoal para seguir viagem. Aquela pequena vila entre cidades não havia lhe rendido grande coisa. Nada de ouro nem aparelhos tecnológicos dos obsoletos. Nenhum galão de avermelhamento. Quando avistou Mae fumando na mureta de uma casa abandonada, indagou-lhe:
— O que vai fazer agora?
— Estou fumando. Depois é depois.
— Que tal uma cerveja?
A pistoleira concordou.
Damian se envolveu quase que imediatamente com Mae. Ele diria que foi amor à primeira vista. Tão frágil naquela época; tão maltratada por quem tinha o seu domínio.
— E pensar que fui eu quem te deu o primeiro revólver.
— Deu pra ficar nostálgico agora? — Mae lhe respondeu.
— Só estava pensando em quando nos conhecemos. Naquela época eu é quem era o durão.
Entraram no estabelecimento que outrora fora palco do tiroteio. Assim que observou Mae o barman começou a tremer. Dessa vez havia alguns homens espelhados nas cadeiras e em volta do balcão.
— Parece que o sujeito já te conhece — Wayne cochichou.
— Será que você não consegue ficar um segundo sem falar? — Mae pediu bebida.
O dono do bar serviu ainda trêmulo. Damian agradeceu.
— Será que ele tem mais medo de você ou da polícia?
— Beba e cale-se.
— Eu só quero continuar vivendo — lamentou o barman.
— É o que todos querem, meu amigo — o pistoleiro levantou o seu copo. — Um brinde à vida!
Todos brindaram. Ele virou o conteúdo integral do copo e depois finalizou:
— Enquanto ela persiste.
Mais tarde os dois deixaram o bar completamente bêbados. Seguiram cambaleando pela única estrada da pequena vila até a carroça de Wayne. Damian cantava algo que não era possível entender enquanto Mae ria entre soluções.
— Eu não gosto dessa hora — confessou o caubói.
— Por quê?
— Na verdade eu gosto, mas não gosto com o que vai acontecer depois.
— Entre logo e pare de falar — ela o empurrou para dentro.

Quando o dia amanheceu Damian acordou com uma dor de cabeça terrível. No seu velho colchão de palha não havia qualquer vestígio de que Mae havia passado a noite ali. Ele se sentou, afastou os cabelos embaraçados dos olhos e então identificou um sinal. O cheiro dos cabelos dela.
— Era disto que eu estava falando, Mae. Não há uma vez que eu acorde com você ao meu lado.
A interlocutora não podia ouvi-lo. Estava longe. Cortava o deserto em cima do seu cavalo geneticamente preparado para a seca. O pensamento naquela altura era o que sempre a motivava a seguir. Aquele detalhe impertinente que não a deixava ser totalmente como a maioria dos habitantes de Novo Oeste. Mentira para Wayne quando lhe dissera que o objetivo era apenas manter-se viva. Na verdade, este nem era o mais importante, mas o meio para alcançar o verdadeiro. Quando se lembrava dele, sentia-se humana. Na cama também, embora as sensações fossem completamente diferentes.
Em Liandra teria as notícias que almejava, mas colhê-las seria mais um desafio mortal. Pelo que sabia a cidade era protegida pela polícia, o órgão oficial de opressão às pessoas. A história daria um rosário, mas para simplificar policiais eram os pistoleiros credenciados pelos governantes para matar aqueles que não seguiam suas regras. Em Novo Oeste você poderia ser três coisas: policial, bandido e nada. Coloque no último grupo todas as pessoas que não tomavam partido nos grupos antagônicos anteriores.
Obviamente encontrar-se naquelas condições não foi algo desejado. Seria mesmo mais um no grupo do nada, mas acontecimentos aleatórios e sucessivos a transformaram numa bandida. Tinha a ver com a cama e com a cidade que buscava. Enquanto cavalgava em linha reta, o cérebro retrocedeu no tempo.

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