Há quanto tempo? Há uma regra que diz não existir aquilo que não é observado. Seria isso o que ocorria com ela? Mas e os filhos, o marido, a paz? Tudo ilusão? Seria muita crueldade, deduziu Maria Falsa ao realizar a sua higiene matinal.
— Espere, hoje é meu aniversário — ela se lembrou subitamente.
Então era isso. Havia sido lembrada por alguém e por isso ganhado vida mais uma vez.
Abaixou os olhos acinzentados e colocou a escova prateada sobre a penteadeira. Após aqueles anos todos havia adquirido mais conhecimento, era verdade. Tanta coisa tinha sido explicada e ainda pairavam no ar. Era como sentir o cheiro gostoso de uma comida que se deseja. Maria podia compreender, embora esta mesma condição dissesse que não tardaria a deixar de ser assim. O cheiro vai se dissipando no ar e esquecemos do almoço. Teremos fome, claro, mas já não saberemos de quê.
Que havia acontecido com o mundo?
Levantou-se. Continuava do mesmo modo de quando esteve ao lado de Ester em sua jornada de volta para casa.
— E você, Ester, conseguiu chegar em casa? — perguntou ao espelho.
Pobre irmã, também lembrou-se de Julia. Havia deixado de existir para que sete outras criaturas fossem criadas. Sete Ministros, todos mortos.
Quem queria enganar? Todos estavam mortos. Eram outros tempos e ela entendia o motivo de ser a única a continuar viva. Era deus que se lembrara dela por causa do seu aniversário.
— Sempre você, Ester. Eu devia lhe agradecer? Ter pena? Já não sei. Você mesma me dá outras palavras para dizer.
Então ela deixa escapar um sorriso para o espelho.
— Obrigada. Viver sempre é o melhor dos presentes.
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