8 de abril de 2015

A Esperança de Suzanne Collins

A guerra e sua consequência

O terceiro e último livro da afamada trilogia Jogos Vorazes possui o nome estúpido aqui no Brasil de “A Esperança”. Já falamos de “Jogos Vorazes”, o primeiro livro, aqui e de “Em Chamas”, o segundo, aqui. Neste terceiro nos deparamos com Katniss Everdeen pela última vez agora engajada num movimento revolucionário que tem por base destituir o atual governo.   

Originalmente ele se chama “Mockingjay”, o que faz todo sentido já que o nome se refere a uma ave peculiar do mundo de Collins, caracterizada por seu comportamento “rebelde”. Em outras palavras o livro seria melhor intitulado se fosse “Rebeldia” ao invés de “Esperança”. O texto trata mesmo é de atitudes ousadas.

Atenção que esta resenha conterá spoilers e se ainda não leu “Em Chamas” interrompa imediatamente a leitura.  Tudo começa exatamente onde para o segundo livro: no meio do Jogos Vorazes especial (Quarter Quell) no qual os campeões das edições anteriores são colados na arena. Entretanto, antes que sobre apenas um campeão vivo, o jogo é interrompido pelos rebeldes do Distrito 13 que invadem o local para resgatar Katniss e Peeta. A coisa não dá totalmente certo e o namorado fajuto (ou não) da protagonista acaba sendo mantido pela Capital, assim como outros campeões. Por outro lado, alguns outros participantes do jogo são resgatados pelos rebeldes, acentuando de imediato dois grupos conflitantes: Distrito 13 e Capital. A ideia é usar Katniss como um símbolo da revolução contra a Capital. Ela será a Mockinjay. Como é esperando a ação se intensifica até culminar no enfrentamento definitivo dos conflitantes e o seu consequente desfecho.

Há duas óticas para analisar o desfecho de “Jogos Vorazes”. Uma delas é a já batida por outros leitores em suas visões e tem a ver com o “mais do mesmo”; a perda de carisma dos personagens pelo desgaste do enredo. Não é novidade que a história poderia ter se findado já no primeiro livro. Todos os elementos que são trabalhados nos livros seguintes estão no livro original. Este último ainda peca em alguns pontos cruciais de enredo. Um exemplo é o que acontece com o personagem Peeta. Seu resgate é “engolível”, mesmo para aqueles que justifiquem o fato de sua liberdade ser desejada pela Capital. Sinceramente não consigo ver como os rebeldes puderam invadir o local, libertar o prisioneiro e voltar quase ilesos para o Distrito 13. Se tinham este poder desde o início então por que não tomaram o local naquela oportunidade? Depois que Peeta retorna mesmo sendo uma armadilha para Katniss, ele não faz nada. Não realiza o que foi programado para fazer. Um apertão no pescoço e só. Passa o tempo e o nosso padeiro acaba voltando a ser o que era antes de ser torturado pela Capital. Em suma, as articulações dos combatentes na guerra não condizem com algo real. Falta coerência.

O ponto de vista seguinte é sobre os efeitos da guerra e aqui a autora foi muito feliz. O fim da história choca pela surpresa, pela crueldade e pela loucura. Personagens não podem ser facilmente rotulados como vilões ou heróis, o que dá um tom de humano àquilo tudo e consequentemente de veracidade. É como se eles ressuscitassem para sofrerem as consequências do enfrentamento entre Capital e Distrito 13. Um olhar todo consciente sobre a guerra e sobre a vida. O amadurecimento de Katniss e Peeta é gigante. O único ponto lamentável é que este “gás” no enredo tenha se dado no fim do livro. Havia tanto para explorar…

Em resumo “A Esperança” é um desfecho que não passa de extensão de “Jogos Vorazes”. Não há novidade até o embate definitivo que marca a guerra. Repetições incessantes de coisas que eram legais antes, mas que já cumpriram o seu papel. O final, este sim caprichado e original, acaba sendo pouco explorado. O livro poderia ser todo a respeito do fim da guerra. Para quem leu os dois outros livros, este é indispensável, óbvio. Entretanto, se você leu apenas “Jogos Vorazes”, pare aí. 

Fica a resenha. 

Abraço.  

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