O bar, um lugar há muito sem limpeza, cheirando a cerveja velha não
tinha muitos frequentadores. Um local público, onde era possível encontrar o
alvo desejado. Mae Dickson deixara o casaco na entrada e degustava sua cerveja.
As marcas nos braços e pescoço denunciavam-na.
O barman, trêmulo,
limpou a poça de líquido dourado do balcão. Os poucos frequentadores não ousavam
dizer uma palavra. Foi Mae quem o fez:
— Eu sei que somos
problema, mas não há outro modo de resolver isso.
O homem assentiu
bruscamente. Fez um sinal para que os fregueses deixassem o local. Todos saíram
rapidamente, deixando as bebidas pela metade. A mulher esquadrinhou o ambiente,
enquanto terminava de beber. Voltou-se ao dono do bar.
— Eles me caçam e eu
faço o mesmo com eles.
O portal duplo do
estabelecimento se abriu, as marcas no corpo de Mae Dickson mudaram de verde
para vermelho e um estranho som agudo ecoou pelo salão.
Ela subiu no balcão com agilidade e
deslizou por ele até o local seguro. Vários disparos foram efetuados e inúmeras
garrafas quebradas.
— Saia daí, bandida! — era uma voz
grossa.
Mae observou o homem que lhe servira
bebida há pouco. Ele parecia estar tendo um ataque do coração. Pediu-lhe
desculpas silenciosamente. Sacou os dois revolveres do coldre e fez o sinal da
cruz com a arma da direita.
Correu para a ponta do balcão e subiu
nele num movimento rápido de pernas. Lançou os braços para frente e com
velocidade puxou os gatilhos matando todos os seis homens.
— Duas balas, seis alvos. Se continuar
assim vou ficar sem munição.
Ela ofegava, o barulho do seu corpo
diminuía. Quando cessou, os riscos das costas e braços voltou a coloração verde
neon. As armas foram devolvidas ao coldre. Mesmo que as marcas do avermelhamento
não reagissem ao perigo, ela sabia que ele ainda não havia acabado.
Caminhou até a saída. Pôs o chapéu negro
na cabeça, mas deixou o casaco onde estava, afinal era preciso ser encontrada
pelos inimigos para matá-los. Assim que colocou o pé na areia da rua, um tiro
de fuzil atingiu o seu ombro esquerdo e a arremessou de volta à varanda do bar.
Ela gritou de dor, enquanto o corpo expelia o projétil. Sangue.
Manteve-se de joelhos, as marcas do corpo
deveriam estar completamente vermelhas, mas apenas metade delas estavam ativas.
— Oh merda.
O lado esquerdo não avermelhava. Era totalmente
vulnerável naquela parte do corpo. Um tiro no peito e era o fim. Já perdera a
conta dos tiros que levara.
Ficou ali, apenas com a arma da direita
em punho. Era preciso descobrir o local do franco atirador. Fechou os olhos e
rezou para que os minúsculos robôs do seu sangue fizessem o seu trabalho. Era
tão difícil saber até que ponto aquela tecnologia instalada em seu corpo era
alheia a si mesma. A linha que separava o avermelhamento da sua imaginação era
tentadoramente perigosa.
O reconhecimento do local foi feito. Em
cima da delegacia, um homem. Nas ruas mais dez pistoleiros e um deles avermelhado,
vinham em sua direção.
— Deixe fluir, Mae — ela disse ao sair do
esconderijo com a arma em punho.
Os olhos rubros identificaram rapidamente
o franco-atirador. Ela disparou contra ele enquanto corria para um novo abrigo. Os primeiros pistoleiros que vinham em sua
direção atiraram, mas Mae se protegeu atrás do bebedouro dos cavalos. Esperou o
momento certo para se erguer e atirar. O disparo transpassou três inimigos. Sem
se abaixar atirou novamente e derrubou mais quatro. Quando foi se proteger, já
calculando a vulnerabilidade, recebeu um novo disparo no ombro esquerdo.
Sabia que a bala agora permaneceria ali.
Mais ainda: o pistoleiro avermelhado fora o autor do disparo.
— Ele sabe que não estou 100%.
Um inimigo se aproximou do bebedouro, Mae
usou o seu punhal para matá-lo. Quando o outro foi defender o amigo, ela atirou
a faca.
— Bravo! — o pistoleiro remanescente
batia palmas — Você vale o desafio.
Mae continuou silente. A hemorragia do
ombro começava a preocupar.
— Saia, Mae Dickson. Se o seu avermelhamento
estiver funcionando com probabilidade, você sabe que já está morta.
Mae não havia experimentado, mas não
precisava de recursos especiais para saber que estava enrascada.
— Sabe que posso mandar uma bala precisa
para a sua posição. Desista e deixe-me vê-la morrer.
Todas as balas quando se está avermelhado
são precisas, otário! Foi o que Mae pensou após ouvir o oponente. Tinha de agir
rápido.
— Ok! — ela se levantou com as mãos para
o alto.
— Ah, Mae! Como sonhei com este momento —
ele apontou o revólver na direção da inimiga — alguma última palavra?
— Vá para o inferno! — ela sacou
rapidamente a arma do coldre direito e disparou certeira contra a cabeça do
inimigo.
— Aprenda, não há tecnologia que supere o
descuido.
— Eu ia dizer o mesmo para você.
Mae se virou rapidamente na direção de
quem lhe falou. Quando reconheceu a pessoa, abaixou a arma.
— Não enche, Damian.
Desmaiou.
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