5 de março de 2015

Tomo I - Procurada, o tempo todo



O bar, um lugar há muito sem limpeza, cheirando a cerveja velha não tinha muitos frequentadores. Um local público, onde era possível encontrar o alvo desejado. Mae Dickson deixara o casaco na entrada e degustava sua cerveja. As marcas nos braços e pescoço denunciavam-na.
O barman, trêmulo, limpou a poça de líquido dourado do balcão. Os poucos frequentadores não ousavam dizer uma palavra. Foi Mae quem o fez:
— Eu sei que somos problema, mas não há outro modo de resolver isso.
O homem assentiu bruscamente. Fez um sinal para que os fregueses deixassem o local. Todos saíram rapidamente, deixando as bebidas pela metade. A mulher esquadrinhou o ambiente, enquanto terminava de beber. Voltou-se ao dono do bar.
— Eles me caçam e eu faço o mesmo com eles. 
O portal duplo do estabelecimento se abriu, as marcas no corpo de Mae Dickson mudaram de verde para vermelho e um estranho som agudo ecoou pelo salão.
Ela subiu no balcão com agilidade e deslizou por ele até o local seguro. Vários disparos foram efetuados e inúmeras garrafas quebradas.
— Saia daí, bandida! — era uma voz grossa.
Mae observou o homem que lhe servira bebida há pouco. Ele parecia estar tendo um ataque do coração. Pediu-lhe desculpas silenciosamente. Sacou os dois revolveres do coldre e fez o sinal da cruz com a arma da direita.
Correu para a ponta do balcão e subiu nele num movimento rápido de pernas. Lançou os braços para frente e com velocidade puxou os gatilhos matando todos os seis homens.
— Duas balas, seis alvos. Se continuar assim vou ficar sem munição.
Ela ofegava, o barulho do seu corpo diminuía. Quando cessou, os riscos das costas e braços voltou a coloração verde neon. As armas foram devolvidas ao coldre. Mesmo que as marcas do avermelhamento não reagissem ao perigo, ela sabia que ele ainda não havia acabado.
Caminhou até a saída. Pôs o chapéu negro na cabeça, mas deixou o casaco onde estava, afinal era preciso ser encontrada pelos inimigos para matá-los. Assim que colocou o pé na areia da rua, um tiro de fuzil atingiu o seu ombro esquerdo e a arremessou de volta à varanda do bar. Ela gritou de dor, enquanto o corpo expelia o projétil. Sangue.
Manteve-se de joelhos, as marcas do corpo deveriam estar completamente vermelhas, mas apenas metade delas estavam ativas.
— Oh merda.
O lado esquerdo não avermelhava. Era totalmente vulnerável naquela parte do corpo. Um tiro no peito e era o fim. Já perdera a conta dos tiros que levara.
Ficou ali, apenas com a arma da direita em punho. Era preciso descobrir o local do franco atirador. Fechou os olhos e rezou para que os minúsculos robôs do seu sangue fizessem o seu trabalho. Era tão difícil saber até que ponto aquela tecnologia instalada em seu corpo era alheia a si mesma. A linha que separava o avermelhamento da sua imaginação era tentadoramente perigosa.
O reconhecimento do local foi feito. Em cima da delegacia, um homem. Nas ruas mais dez pistoleiros e um deles avermelhado, vinham em sua direção.
— Deixe fluir, Mae — ela disse ao sair do esconderijo com a arma em punho.
Os olhos rubros identificaram rapidamente o franco-atirador. Ela disparou contra ele enquanto corria para um novo abrigo.  Os primeiros pistoleiros que vinham em sua direção atiraram, mas Mae se protegeu atrás do bebedouro dos cavalos. Esperou o momento certo para se erguer e atirar. O disparo transpassou três inimigos. Sem se abaixar atirou novamente e derrubou mais quatro. Quando foi se proteger, já calculando a vulnerabilidade, recebeu um novo disparo no ombro esquerdo.
Sabia que a bala agora permaneceria ali. Mais ainda: o pistoleiro avermelhado fora o autor do disparo.
— Ele sabe que não estou 100%.
Um inimigo se aproximou do bebedouro, Mae usou o seu punhal para matá-lo. Quando o outro foi defender o amigo, ela atirou a faca.
— Bravo! — o pistoleiro remanescente batia palmas — Você vale o desafio.
Mae continuou silente. A hemorragia do ombro começava a preocupar.
— Saia, Mae Dickson. Se o seu avermelhamento estiver funcionando com probabilidade, você sabe que já está morta.
Mae não havia experimentado, mas não precisava de recursos especiais para saber que estava enrascada.
— Sabe que posso mandar uma bala precisa para a sua posição. Desista e deixe-me vê-la morrer.
Todas as balas quando se está avermelhado são precisas, otário! Foi o que Mae pensou após ouvir o oponente. Tinha de agir rápido.
— Ok! — ela se levantou com as mãos para o alto.
— Ah, Mae! Como sonhei com este momento — ele apontou o revólver na direção da inimiga — alguma última palavra?
— Vá para o inferno! — ela sacou rapidamente a arma do coldre direito e disparou certeira contra a cabeça do inimigo.
— Aprenda, não há tecnologia que supere o descuido.
— Eu ia dizer o mesmo para você.
Mae se virou rapidamente na direção de quem lhe falou. Quando reconheceu a pessoa, abaixou a arma.
— Não enche, Damian.
Desmaiou.

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