5 de dezembro de 2013

A Civilização do Espetáculo de Mario Vargas Llosa


A Civilização do Espetáculo

A Cultura está morta e enterrada

Tido como Ensaio, “A Civilização do Espetáculo” é uma consciente reflexão sobre a nossa atual sociedade. Mais que isso, é um estudo eficiente sobre o homem atual, suas instituições e objetivos. A triste e derradeira conclusão é a chamada para esta resenha: a cultura está morta e enterrada.

Mario Vargas Llosa, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2010, nos envolve com o seu texto crítico e bem estruturado. Fornece-nos aquelas informações que às vezes sentimos faltante, os porquês. Ele começa de forma estarrecedora ao afirmar que vivemos num mundo sem Cultura, já que o que se entende pelo termo, há muito deixou de existir devido ao avanço desenfreado do capitalismo e da inversão de valores. Já não existe o mesmo conceito de valor no campo das artes. Sua concepção, como o autor nos faz crer em relação a diversos outros campos, ganhou um significado simples; sinônimo de cifrão.

Perpassa por vários temas, ás vezes sutil, noutras vezes enfático, com o intuito de demostrar suas conclusões. A morte da sensualidade, do erotismo pela banalização do sexo; a extinção da literatura de verdade, agora substituída pela literatura de entretenimento, são dois dos exemplos que cito. Llosa vai além, despeja de forma precisa o seu vasto entendimento em vários campos do conhecimento humano para comparar o antes e o agora. Sem deixar de lado, com prudência, as melhorias alcançadas pela nossa civilização do espetáculo. A queda da tirania ocorrida no Ocidente de forma quase generalizada; a liberdade do pensamento e de comportamento, ainda que formalmente; a equiparação dos gêneros no campo empresarial e o repúdio à tortura são alguns exemplos que o autor esmiúça com propriedade.

Na civilização do espetáculo as pessoas estão preocupadas em se divertir e exaurem suas ações nelas mesmas. Este é campo fértil para o materialismo e individualismo. Obras de arte ínfimas, livros fúteis, música pobre são os produtos desta estrutura pirotécnica. Não sem o seu devido valor e sentido: elas vendem; há quem compre. E daí entra mais uma triste conclusão do autor, que salienta o fato de que, com a nivelação cultural das pessoas (ocorrida por baixo), perdeu-se qualidade. A quebra da divisão social, ou seja, a confusão entre cultos e incultos, ocasionou o morte da cultura. Todos, hoje, são, se acham ou querem ser intelectuais. Não sem razão ele atribui isso à ascensão da burguesia que agora se aventura por campos antes exclusivos da nobreza.

Frequentemente o autor utiliza o termo “pós-moderno” para caracterizar a sociedade, contrariando a corrente de que ainda vivemos no período “moderno” culturalmente falando. Seus motivos são óbvios e condizem com as características do termo, afinal vivemos um período no qual não sabemos nomear. O que sabemos, e só, é que não estamos mais da modernidade. Ela se foi, assim como os valores morais e éticos que carregava consigo. Vivemos uma confusão.

Para resgatar a ética o autor sugere que o homem simples deve buscá-la nas religiões. As instituições ainda conservam certos valores e alicerçam o caráter. Sua importância para “salvar” a civilização do espetáculo é crucial, é o que determina o não regresso ao tempo das cavernas. E aqui vem a última informação importante sobre esta brilhante obra: é ilusório, do ponto de vista cultural (ela nem mesmo existe!), o avanço da sociedade. Não se produz como antes, não se lê, não se tem bom gosto. A tecnologia é fantástica e contribuiu efetivamente para o desenvolvimento da ciência, da comunicação e saúde, mas não é eficiente para lidar com o que está dentro do homem. É um paradoxo, o fato de avançarmos assustadoramente no campo da comunicação, mas não termos assunto para conversar.

Assim concluo este comentário sobre “A Civilização do Espetáculo”, constatando que podemos ser “dinossauros” que ainda lutam para manter uma vaga lembrança, uma chama pequena, um indício de possibilidade de vida da Cultura. São, na literatura, aqueles autores que transcendem o momento; que produzem com a intenção de interferir na sociedade que vive, seja criticando-a, seja relatando-a. Além disso, propagando valores que as pessoas se esqueceram por estarem se divertindo demais.

Fica a dica e a resenha!
Abraço.

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