26 de maio de 2011

Conto o que contam: parte final


Fragmentei o texto “O skatista humilde” para que a postagem ficasse leve. A primeira parte dele pode ser lida aqui. Eis agora, caros amigos, a segunda e última parte deste conto super adolescente:

__ A proposta é você seguir a nossa “tour” como convidado, por umas semanas.
__ Nossa, isso é demais! Trato é trato – disse, avistando o enorme e pomposo ônibus da turnê. Mas você disse que devo seguir algumas determinações suas, e qual seria a primeira?
__ Meu filho – disse o experiente profissional coletando adesivos numa caixa – você terá que andar de skate descalço hoje, pelo resto do dia!
Surpreso e com uma cara de assustado, o humilde “local” foi tirando o tênis e foi, descalço, distribuir os vários adesivos aos colegas skatistas.
Todos se surpreenderam ao ver o rapaz andando descalço e machucando o pé na lixa do skate, mas trato é trato, e assim foi chegando a noite.
__ Pessoal – gritou o skatista experiente de cima da rampa maior da pista – este rapaz [disse erguendo a mão do garoto] será o mais novo membro da equipe. Será por apenas algumas semanas, mas ele é talentoso e o observaremos mais de perto, quem sabe pode vir a se tornar um dos nossos patrocinados algum dia!
Ouvindo isso, o jovem skatista profissional aplaudiu e deu as boas vindas ao novo “membro temporário”.
O outro skatista profissional, que era irmão do dono da marca, apenas ficou surpreso, cumprimentou o garoto e disse ao skatista experiente que nada era certeza, até conversarem com o “chefe”.
Altas horas da noite, foram avisados que poderiam seguir viagem, pois o ônibus havia sido consertado.
Nisso o garoto humilde, que integraria a equipe por uns tempos, avisou que ia rapidamente avisar aos pais que viajaria com a equipe, mas foi barrado pelo skatista veterano.
__ Sua segunda tarefa, garoto, será ficar incomunicável com seus pais por 2 dias!
Não entendendo nada, mas disposto a este sacrifício, entrou no ônibus após a permissão do “chefe” e partiu com seus companheiros de equipe.
O passar do tempo era penoso para o humilde garoto e parecia uma eternidade, pois não havia se despedido da família e, já com os olhos em lágrimas, disse ao seu companheiro, com quem havia feito o pacto:
__ Quero ver minha mãe. Ela deve estar muito preocupada, pois há 2 dias não apareço em casa. Nossa, meu pai então deve estar bravo comigo, mas mesmo assim quero vê-los!
__ Meu filho, meu filho... tome meu celular, pode ligar para sua família!
Então o garoto, com um brilho no olhar, pegou o aparelho e, meio desajeitado, ligou e conversou por um bom tempo, e explicou que estava longe, porém realizando o sonho de sua vida!
Após ligar, voltou a conversar sobre os motivos, falando em voz alta e nervoso, para acabar logo com esse suspense.
Com voz calma e uma sinceridade incrível, o experiente skatista revelou haver muita semelhança entre os dois.
__ Garoto, quando tinha sua idade, estava começando a andar de skate! As únicas pessoas que me apoiavam eram meus pais, porém faleceram em um triste acidente. A partir daquele dia larguei o skate e pensei em tudo, menos continuar a viver! Porém, quando estava começando a usar drogas, um rapaz veio até mim e me alertou sobre os efeitos, me oferecendo ajuda. Ele acabara de criar uma escolinha de skate e me chamou para ser seu aluno.
__ História muito triste, mas onde entro nessa história?
__ Calma, meu filho. Como eu ia dizendo, comecei na escolinha de skate e depois de 01 ano meu professor e os demais alunos criaram uma marca para correr campeonatos e divulgar o skate. Meu “professor” é meu chefe e dono da mesma marca que você faz parte! Meu filho, ao reparar em você lá na sua pista, verifiquei que você não estava dando o valor ao que tiha e, muito menos, correspondia à animação que o skate proporciona.
__ Realmente tio. Vejo que para crescer é preciso ter uma família, ou ao menos quem nos apóie e indique o caminho correto a seguir.
__ Está aprendendo, garoto. Porisso estabeleci 2 dias para você perceber o valor da família. Estou órfão há 30 anos, e minha família é esta equipe e todos os skatistas que encontro pelas ruas!
__ E sobre andar descalço? Havia algo em especial também?
__ Claro que sim, meu rapaz. Você, a princípio, julgava ser impossível haver pessoa mais humilde e em piores condições que você. Mas ao andar de skate descalço viu que estava em pior situação do que ao usar seu tênis rasgado e sujo! Como se sente agora, meu rapaz?
__ Puxa, me sinto muito feliz! Percebi que tenho uma família que gosta de mim. Percebi também que reclamava do tênis, mas com ele eu mandava ótimas manobras! Percebi que os verdadeiros amigos e verdadeiros skatistas estão para nos apoiar, e não para reparar em nossas roupas ou modos!
E foi assim que nosso skatista do interior passou a observar o mundo! Viu que não tinha tudo que gostava, mas gostava e adorava mais e mais tudo que tinha!
Talvez, quem sabe, o encontraremos por aí, rindo, aplaudindo, caindo e levantando, enfim, nos ensinando a encarar a vida de frente, encarar a vida de flip ou qualquer outra manobra!
Ele está aí sim, com coragem e humildade! “Ele” somos nós, skatistas e pessoas comuns e, ao mesmo tempo, especiais!

Fim.

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