16 de dezembro de 2010

O peso de 179 laudas por Bruna Maria


 

O título da postagem é o mesmo do texto que passarei a compartilha com vocês. Ele é de autoria da escritora Bruna Maria, uma pessoa muito especial que possue uma ideologia muito interessante. Resumindo para não ser chato, Bruna tem em mente, ao menos foi o que pude notar e ela que me corrija caso esteja errado, que está sempre "escrevendo". Ensina que a graça de viver é estar sempre com os verbos no gerúndio, ou seja, estar sempre fazendo, escrevendo, sendo. Assim ela o é, ou melhor: assim ela está sendo. Tenho que admirá-la por isto, é inevitável. Eu mesmo penso de forma parecida. Acho que sempre temos que estar fazendo algo aliás, acredito que somos desenhos esboçados que almejam ser arte-final um dia, mesmo sabendo que nunca seremos. Então não espera mais para conhecer os projetos da Bruna:

http://blog.brunamaria.com/p/sobre-o-blog.html


Agora vamos ao texto da talentosa autora:


O peso de 179 laudas:

Esquecer é necessário, para uma série de coisas. Eu, por exemplo, esqueci que escrevi o livro. Sim – em teoria, o livro está pronto. O tempo do verbo, assim, é esse mesmo: escrevi. Em teoria: porque escrito ele está, como prova a observação material das laudas completas. Porém, falta ainda a parte. O trabalho para além do enredo. Falta e me assombra. Acredito que, por isso, sobre a escrita do livro, para torná-lo vaporoso e inaudível – mais leve para mim –, debrucei o esquecimento. Já deve fazer um mês. Há um mês eu não escrevi o livro.

Já que conto os dias – há uma semana falei sobre o livro com alguém a quem entreguei as laudas para uma leitura crítica. Houve concordâncias sobre questões que sugerem o trabalho citado ali em cima; eu sei que o que ouvi é o que está faltando. Falta-me, porém, uma espécie de força e sustentação para passar os dias na dedicação. Acho, com isso, que o livro, escrito como está até agora, me diminui, me tira força, me desautoriza (ainda que eu saiba que ele não está pronto do jeito que desejo).

Não devia ser assim. Soa mais, quando talvez devesse ser menos. Afinal, livros são escritos desde sempre, em todos os lugares, pelos mais diversos tipos de pessoas etc., e não deviam ser motivo de desdobramentos emocionais para quem os escreve. Certo? (Não sei. Ainda vou descobrir.) Acontece que, talvez, eu possa contar com um argumento a meu favor: é o primeiro livro, não sei bem o que é tê-lo escrito, não sei nem sobre a possibilidade de publicar (e tudo isso deve se repetir a cada livro que um autor completa). Então toda essa fundamentação do não saber me cobre com suas dúvidas e distorções, quantas sejam possíveis e imagináveis. Arrastam para longe toda a atmosfera de conforto que estranhamente encontrei quando me dispus a escrever a estória daquelas personagens. É o trânsito estranho das horas trancadas em um quarto para uma locação ainda desconhecida na qual o livro deve repousar, depois de pronto. Locação dos olhos. E a emoção alheia – que é o que desconheço. Pensando bem, é como a ideia da "travessia", naquele sentido que Guimarães Rosa coloca sobre as nossas vidas – agora suponho. Deve ser isso mesmo, vou me apropriar: "Travessia."

De qualquer forma, estou voltando ao livro, para trabalhar nessa finalização. Dia trinta e um faz um ano. É uma reviravolta pessoal olhar para trás agora. E para frente, sempre.
Oficialmente, retorno hoje ao livro. Entre tudo o que somatizo nesse ínterim, e as pausas para a recuperação nessa mistura de prioridades e afeto, acredito que logo vai sair o resultado final mais próximo que desejo. Então, só aí, poderei dizer que o livro está concluído, verdadeiramente. E direi aqui mesmo, em primeira mão. Em breve.


Então, o que vocês acharam?

2 comentários:

  1. Paul, nossa, que linda introdução. Obrigada por essas palavras. Você agradeceu por eu disponibilizar o texto pra você publicar, e eu agradeço em dobro pelo seu interesse e pela sua leitura atenciosa. Obrigada!

    Beijos!

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  2. De nada, Bruna. Gosto muito de "sentir" as palavras e sempre posso quando estou em seus textos. Estou ancioso por suas novidades literárias!

    Um abraço e sucesso!

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