27 de dezembro de 2010

Dom Casmurro e os Discos Voadores de Lúcio Manfredi



E se Capitu fosse de outro planeta?

Lúcio Manfrendi pegou o clássico Dom Casmurro de Machado de Assis e inseriu nele um contexto novo, no qual alienígenas estão por trás dos misteriosos olhos de ressaca de Capitu. Mais ainda, ele trouxe Bentinho e toda sua trupe para o gênero fantástico de literatura, revigorando um livro excelente, trazendo-o para os leitores novos, ávidos por fantasia. É assim que vejo o trabalho do escritor e roteirista de televisão mencionado no título desta postagem.

Dom Casmurro e os Discos Voadores é um livro novo, mas não tão novo. Lançado em 2010 pela editora Lua de Papel, faz parte da coleção Clássicos Fantásticos que tem o objetivo de inserir grandes obras no contexto da fantasia, tal qual os livros em evidência dos últimos anos. A ideia, fazendo um trocadilho, é fantástica. No livro de Manfredi, que ele mesmo atribui parceria a Machado de Assis (e que parceiro, não?) encontramos, mais uma vez Bentinho e Capitu lutando para ficarem juntos. Contudo, dessa vez, forças desconhecidas querem impedir a união do casal e uma verdadeira "guerra fria" se estabelece. Anunaques e Aquepalos, guarde bem estes nomes e confira no livro o que eles representam.

O livro trabalha bem com o fator suspense. O leitor fica preso ao contexto novo que é apresentado em doses corretas e tempo certo e tudo, ao final, fica esclarecido. O português da obra é simplificado se comparado ao de Machado, mas não é ruim. Pelo contrário. Achei-o excelente. O autor, parafraseia Machado de Assis em todas as partes que não são fantásticas e isso pode gerar desconforto. Por este motivo, não me vi lendo um livro novo, mas sim um livro velho que foi cuidadosamente montado para parecer velho. Fiquei desapontado com isso, pois esperava rever Bentinho e Capitu em um contexto totalmente novo e que não tivesse nada a ver com as palavras de Machado de Assis, mas não é este o caso.

Outro fato marcante é que Capitu mudou de nome. No livro de Manfredi ela é apenas Capitu, enquanto que em Machado ela se chama Capitolina e seu apelido é Capitu. Achei que a falta deste detalhe foi intencional, já que o autor quis dar um ar mais jovial ao livro original, mas não entendi como sensato. Não sei se o leitor poderia concluir por si que Capitu é um apelido e não um nome e mais ainda se não ia pensar: como alguém poderia se chamar Capitu?

Acredito que o problema reside no fato de o livro querer ser uma cópia do original em vários trechos o que nos leva a compará-lo e a deduzir negativamente. O sistema de capítulos curtos de Machado de Assis é usado por Lúcio Manfredi e também os títulos dos capítulos, tudo intencional ao meu ver. Até mesmo o estilo de narração em primeira pessoa, na qual Machado conversa com seus leitores é mantido no livro. Entendo que era preciso usar muitos elementos do livro original nesta versão, mas imaginei que seria mais "livre" e infelizmente para mim, Dom Casmurro é único.

Deduzo, portanto, que Dom Casmurro e os Discos Voadores é um livro velho com um contexto novo. O contexto fantástico inserido é muito bem estudado e trabalhado o que dá qualidade ao livro, mas a parte original que foi usada no livro desaprecia-o, já que não combina com o texto novo, por mais que Manfrendi tenha se esforçado para isso. Rever Bentinho e Capitu, ainda que de forma diferente, foi uma experiência boa e gratificante, apesar de tudo. É um livro que tem uma ideia legal e vale a pena ser lido, mas se você espera algo novo e original, vai ficar desapontado.

É isso!
Um abraço.

6 comentários:

  1. Paul, adorei a sua resenha. Confesso que não gosto de livros que são cópia fiel do original. Eu acho que se for pra utilizar um grande clássico da nossa Literatura, que seja apenas para criar algo inovador e original. Obviamente que pode-se preservar os personagens e estilo narrativo. Entretanto, ele poderia ter seguido seu próprio estilo de escrita a meu ver.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Mariana! Eu penso como você. Mas, a leitura deste livro foi divertida, acho que porque gosto muito do original. Um abraço!

    ResponderExcluir
  3. Fiquei com vontade de ler! Gosto muito de Dom Casmurro. Essa versão fantástica parece bem interessante. Boa resenha, Paul!

    ResponderExcluir
  4. desculpe a invasão ..
    vim convidá-la para participar do Prêmio Literário, uma gincana de produção de textos !
    http://ppliterario.blogspot.com
    conto com sua participação !
    beijos

    ResponderExcluir
  5. Opa!

    Gostei da ideia!

    Talvez eu invente uma com "Senhora", que é o único livro brasileiro que gostei de ler durante um trabalho escolar!

    ^^

    ResponderExcluir
  6. Patty, é muito bom saber que você gostou da resenha. Quando ler o livro não se esqueça de dizer o que achou dele. Um abraço!

    Luu, vou conferir o que voc~e me indica. Um abraço.

    Alec, olá! Se não me engano, já fixzeram um deste livro que você diz. Mas acho que sua visão dele seria bem interessante. Obrigado pelo comentário.

    Abraço a todos!

    ResponderExcluir

Bem-vindo. Seu comentário é muito importante!