19 de julho de 2010

Crônicas de Ester: Lucas e Victória


Marianne Stokes - The Young Girl and Death



Lucas argumentava com o padre, na tentativa de evitar que Victória fosse enterrada viva:
— Mas o senhor se enganou! Talvez por estar apavorado por causa dos soldados inimigos, ou por causa da tristeza de ver a menina ferida! — disse ele.
— Talvez eu tenha me enganado mesmo! Que sorte você ter resolvido se certificar da morte dela!
Todos ficaram muito felizes com a notícia dada por Lucas, até ele mesmo ficou feliz. Victória foi retirada do caixão sob a exaltação de todos que estavam presentes e em procissão foi levada de volta para sua humilde casa. Precisamente para ocupar a sua cama:
— Mandarei um mensageiro avisar a Curandeira da vila vizinha para que venha cuidar da minha filha — Disse a mãe de Victória.
— Faça isso! — Respondeu-lhe Lucas com ar de militar responsável.

O falso militar não recusou o convite para almoçar na casa de Victória. Depois, aproveitou também para tirar uma soneca, pois fazia tempo que estava caminhando. Mais tarde, uma voz em pranto trouxe Lucas de volta dos sonhos:
— Ela morreu! De novo! — Era a mãe de Victória.
— Como é? — Disse Lucas sonolento.
— Victória! Fui ao quarto para ver se estava tudo bem e notei que os lábios dela estavam roxos! Chequei a temperatura e vi que minha filha estava gelada! Por favor, traga-a de volta como fez antes!
Lucas ficou preocupado! Ele não tinha o poder de ressuscitar os mortos. Tinha sabedoria suficiente para saber apenas quando alguém estava vivo ou morto, ou será que nem isso? Levantou-se, calçou suas botas e dirigiu-se ao quarto de Victória para vê-la:
— Estranho — Disse ele depois de examinar o batimento da moça — Agora o coração não está mais batendo.
— Ah, não! Fiquei tão feliz quando descobri que minha filha não tinha morrido! Agora estou tão triste — e a mãe de Victória começou a chorar outra vez.
— Lamento.
Contudo, para interromper aquela situação triste, lá fora, ouviu-se o marchar de tropas. A mãe de Victória engoliu seu choro imediatamente, dizendo:
— São eles! Os soldados de dourado! Os nossos inimigos! Eles voltaram para nos matar!
Lucas ficou assustado. Havia se lembrado que ele era o único soldado de verde por ali e pior: não era um soldado de verdade. Mas precisava tranquilizar aquela mulher tão sofrida:
— Não se preocupe! Eu estou aqui e vou proteger a senhora! Protegerei todos os morados da Vila!
— Mas como?
— A senhora verá! – Nem ele mesmo sabia.
Lucas agarrou seu rifle e abriu a porta da casinha de Victória. Os soldados de amarelo marchavam imponentes pela única rua daquele vilarejo. Estavam passando pelas portas da capela, quando avistaram Lucas. Armaram seus rifles e apontaram para o falso soldado de verde. Lucas nessa, hora sentiu um mal-estar, mas manteve-se firme:
— Saudações! — Disse ele ao fechar a porta.
O líder de amarelo, que tinha a farda muito similar a que Lucas vestia, só que de coloração dourada, tomou a frente dos seus soldados:
— Vou meter uma bala no meio das suas fuças, militar esmeralda! — Ele engatilhou sua arma.
— Grade coisa! — Lucas deu de ombros — Qualquer um consegue matar outra pessoa com um rifle! Não vejo nenhum mérito nisso!
— Ora, seu verme! Está me desdenhando?
— Longe de mim, desdenhar o senhor! Mas é que alguém do seu escalão militar, não mataria apenas por matar! Gostaria de um desafio para fazer jus às medalhas pregadas nessa farda!
O militar inimigo abaixou seu rifle:
— O que você sugere?
Lucas se aproximou mais seguro:
— Simples! Mande seus homens embora! Vamos duelar!

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