11 de fevereiro de 2010

Crônicas de Ester: Morte e Justiça




— Sabe, Julia! O mundo as vezes é tão injusto — Disse Lady de cabeça baixa. — Sei que parece estupidez falar isso com você.
Julia Justa escutava com atenção os dizeres de sua irmã Morte. A mulher honesta não podia vê-la. Tinha as pálpebras costuradas às extremidades dos olhos; era ouvinte por excelência:
— Nas suas palavras eu noto aflição. Que pode curar a aflição da Morte? Que pode o justo trazer ao fim?
Lady balançou sua cabeça. Dava tudo por um cigarro:
— Queria justiça para os que vivem. Como sei que também precisam os mortos.
— É por isso que eu existo estimada irmã! Mas como você bem sabe, tudo obedece à uma ordem de acontecimentos. O que está ao meu alcance para plantar a justiça, sabe que faço!
Lady sorriu.
— Sei sim. É que as vezes parece insignificante...
Julia se levantou e virou de costas para a irmã. Os cabelos alongados que varriam o chão de pedra daquela sala reluziam ao sol que brilhava pela janela:
— Vê o sol? — Disse — Eu daria tudo para vê-lo. O que é insignificante para uns é tudo para outros.
Foi a vez de Lady se levantar:
— Até hoje não compreendi os motivos que te levaram a costurar os olhos! Eles eram tão bonitos!
— Meus olhos eram humanos, irmã! Para que houvesse efetiva justiça foi preciso que abrisse mão da visão e explorasse meus outros sentidos. Foi preciso fechar os meus olhos para melhor ouvir; melhor sentir...
— Isso é loucura! Seria como se eu precisasse morrer para melhor executar minha tarefa!
— E você não morre a cada morte que atesta? A cada pessoa que guia? Por falar nisso, que tem feito por essas pessoas?
Lady se sentiu encurralada e culpada, como se duas paredes grossas de pedra a pressionasse. Havia deixado muitos sem explicação.
Julia se virou para a irmã e sorriu:
— Ajudar é prelúdio para a paridade!
Lady sorriu de volta e abraçou a irmã que cheirava a rosas. Beijou-a no rosto.
Julia sorriu e mesmo com os olhos fechados para sempre, deixou que lágrimas caíssem.
Morte se afastou revigorada:
— Vou ajudar a todos!

Um comentário:

  1. Olá, Paul! Vou comentar por aqui agora, tudo bem?

    Muito legal a conversa entre as irmãs. Gosto dessas duas personagens! Imagino que a morte deve mesmo achar muitas injustiças.

    Se me permite algumas correções:
    Por falar nisso que tem feito por essas pessoas? -> acredito que há uma vírgula depois de "Por falar nisso"
    "Lady sorriu de volta e abraçou a irmã que cheirava à rosas." -> sem crase
    "Beijo-a no rosto." -> Beijou-a, não?

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